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Brasil

O Outono sem fim: seria essa a melhor estação do ano para o surf?

Patrick Azevedo

O dia 21/03 marca a transição de estação o verão para o outono no Brasil. Entenda porque "Outono sem fim" deveria ser o título do clássico filme de Bruce Brown “Endless Summer”, lançado em 1966.

Todos já ouviram falar daquele sonho de verão, uma época que tem sol, ondulações constantes, ventos favoráveis e pouco crowd. Seguindo os passos de Mike Hynson e Robert August no filme “Endless Sumer” (Tradução livre: "Verão sem fim"; título original em português: "Alegria de Verão"), a ideia perfeita seria um roteiro de viagem onde todos os destinos são visitados durante o verão. Porém, não é bem assim que a coisa funciona. Um planejamento como o do filme provavelmente levaria a muitos dias de mar flat ou com ondas pequenas, bastante crowd e hospedagens caras. O sonho da maioria dos surfistas, principalmente no Brasil, é (ou deveria ser) uma viagem de Outono sem fim (ou "The Endless Autumn", em inglês), e vamos explicar o porquê.

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Capa adaptada do filme "The Endless Summer" 

As ondulações do outono

Até mesmo para quem não é surfista, o outono, em especial no Brasil, é um prato cheio. O fim do verão começa a gerar mais ondulações e oferecer dias com temperaturas amenas. Além disso, é a chamada “estação seca”, onde temos o menor volume de chuva ao longo de todo o ano. Além desses fatores, temos um outono em baixa temporada. As hospedagens são mais baratas e as praias ficam bem mais vazias. Consequentemente, tem menos gente (banhistas) também na água.

O litoral brasileiro possui majoritariamente fundos de areia, sensíveis, e que se movem a cada instante. Além disso, temos diferentes tipos de grãos de areia para cada praia. Em alguns locais, os grãos são mais grossos, o que significa um fundo mais sensível e volátil. Em picos onde a areia é mais fina, o movimento acaba sendo menor. Isso é um fator que acaba prejudicando bastante as previsões, pois não há como prever um movimento que é orgânico e constante, e ainda depende de fatores específicos para cada praia. O que devemos fazer é observar sempre a energia de cada ondulação, bem como sua direção e duração, além do vento, que é quem gera as correntes marítimas, as ondas e também os swells

O outono gera ondulações constantes e com mais energia, além de ter ventos mais favoráveis (direção positiva e menos força). Isso lhes dá a capacidade de mover e moldar os fundos de areia de maneira organizada e sólida. 


Foto de Pok Rie. Fonte: Pexels 

Os ventos do outono

Falando especificamente dos ventos no outono, não poderíamos deixar de focar no terral. É exatamente nessa estação que os ventos da terra para o mar são mais constantes, principalmente no amanhecer e no final da tarde. O terral é um vento que alinha a formação das ondas e dá um toque muito especial à natureza como um todo. Ele é também um dos responsáveis pelo fenômeno chamado Ressurgência:

O Afloramento ou Ressurgência  é um fenômeno oceanográfico que consiste na subida de águas subsuperficiais, mais frias, muitas vezes ricas em nutrientes, para camadas superficiais no oceano.

Isso torna as águas litorâneas mais frias e movimenta todo o ecossistema, favorecendo também a pesca e tornando mais comuns os encontros com seres marinhos.

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E por que o vento terral é tão querido pelos surfistas? No mar, ele limpa as temidas valas, torna os tubos mais largos e possíveis de serem explorados bem mais fundo, além de proporcionar uma onda com parede mais lisa e de fácil leitura. No céu, ele atua como um verdadeiro artista. As nuvens ganham contornos especiais e cores vibrantes. No surf, um dia de mar ruim pode tornar-se um dia clássico em poucos minutos caso o vento terral apareça. 


O vento terral alinha as ondas. Foto de Ben Mack. Fonte: Pexels

O que um especialista diz sobre o assunto

Para complementar e falar um pouco mais sobre esse tema, conversamos com o especialista Caê Mancini, Meteorologista e Mestre em Ciências Atmosféricas. 

- Pergunta: O que podemos esperar para o Outono no Brasil?

“Nesse Outono de 2022, a La Niña deverá atuar, pelo menos até a primeira quinzena de maio. Este fenômeno, que está associado ao resfriamento das águas do Pacífico central, gera um ambiente propício para a formação de ciclones extratropicais entre a Patagônia Argentina e a Bacia do Prata.

De forma geral, os swells são gerados por ciclones, logo, em termos de frequência, podemos esperar uma relativa boa frequência de ondulações. Contudo, a intensidade desses swells devem ser analisados de forma individual no curto prazo mesmo.

É importante destacar que o outono denota, do ponto de vista sazonal, o movimento aparente do sol para o Hemisfério Norte. Isso contribui também para deslocar os ciclones e frentes, que são guiados pela Corrente de Jato em altitude, mais para Norte. Por isso, recebemos mais ondulações significativas no Sudeste do Brasil a partir deste período.”

- Pergunta: Quais as condições esperadas para o surf nessa época?

“Podemos esperar o retorno das ondulações frequentes, como esperado para essa época do ano. Porém, ainda é difícil falar sobre a intensidade das ondulações. Acabamos ficando mais refém das previsões de curto prazo mesmo.”

- Pergunta: O que você acha da ideia de que o filme "The Endless Summer” deveria se chamar "The Endless Autumn"?

“Para grande parte da costa leste do Brasil, a partir do outono se inicia a temporada de ondas. 

O “Endless Summer” é interminável para os surfistas, mas pelo fato de estarmos sempre no aguardo das ondulações do outono. (Risos)

'Endless Autumn' é um ótimo nome. Eu sou suspeito, porque é a estação que eu mais gosto e geralmente é um período que realmente tem altas ondas.”


Foto de Kammeran Gonzalez-Keola. Fonte: Pexels 

Grande parte da beleza do Surf, dos esportes e da natureza, em si, é a certeza de que um dia nunca será igual ao outro. O mar sempre estará diferente, assim como o céu, as nuvens e, claro, as ondas. Por isso, vamos receber o Outono de 2022 de braços abertos, com foco na alimentação e na saúde para estarmos bem e desfrutarmos dessa época do ano tão especial.

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Patrick Azevedo, 31 anos, é Analista Técnico, formado em Comunicação Social pela Universidade Estácio de Sá. Diretor Esportivo da Associação de Surf de São Conrado (RJ), é um apaixonado pela natureza, por esportes e, em especial, pelo surf. Possui 19 anos de experiência em análise e previsão das ondas. Começou a pegar onda de Bodyboard aos 8 anos de idade na Praia do Forte, em Cabo Frio. Em 2003, com 13 anos, passou a usar o Surfguru como ferramenta para prever as condições do mar. Aos 14, começou a surfar de pranchinha no canto esquerdo da Praia de São Conrado, onde continua até hoje. Possui um Canal no Youtube (Sal do Mar) com vídeos autorais de GoPro (@canalsaldomar).

Instagram: @azevedo_patrick

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