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Temporada de ondas em Regência: La Niña ajuda ou atrapalha?

Vai dar altas ondas? Por que?

30/Set/2022 - Branco Eguchi - Linhares - Espírito Santo - Brasil

Se você acompanha o surfguru e gosta de saber sobre as ondas de regência, com certeza já viu essa matéria: "Pico do Mês: Regência". Aqui vamos fazer uma análise das condições esperadas para essa primavera 2022 e mostrar por que a primavera é uma estação tão importante para a Vila Mágica dos Tubos.

Os pesquisadores da Metsul Meteorologia destacam que a primavera é o período de maior ocorrência de tempestades. A figura abaixo mostra a análise de energia e quantidade de tempestades¹. Os autores utilizaram informações de ondas do modelo computacional para o litoral sul do Espírito Santo entre os anos de 1984 e 2008. Podemos ver que nos meses de julho, agosto e principalmente setembro ocorrem mais tempestades.

As barras cinzas mostram a quantidade de tempestades (número de ressacas) e as barras pretas mostram a energia de onda das tempestades para cada mês do ano para o litoral sul do Espírito Santo entre 1948 e 2008. Fonte: Eguchi e Albino (2021).

Durante a primavera, os ventos gerados pela Alta Pressão ou Anticiclone do Atlântico Sul (ASAS) ficam mais fortes em alto mar². Se você não lembra, estes são os ventos responsáveis por gerar ondulações do quadrante leste e nordeste para o litoral do Espírito Santo. A figura abaixo mostra a ocorrência de ondas durante as estações do ano. As informações foram obtidas do Projeto Nacional de Boias (PNBOIA) do Centro de Hidrografia da Marinha do Brasil (CHM).

Gráfico do tipo rosa dos ventos, mostrando a direção de incidência e as alturas de ondas para cada estação do ano no ponto mostrado na figura anterior. Fonte: Branco Eguchi.

O triângulo vermelho (esquerda) mostra a localização da bóia (direita) de onde foram obtidas as informações de ondas. Fonte: Branco Eguchi.

Em uma análise rápida, podemos perceber que durante o verão as ondulações de leste acontecem, porém são muito pequenas. No outono e inverno as ondulações de leste ganham mais tamanho, no entanto, as ondulações de sul são mais fortes e predominam. Agora, durante a primavera, temos a predominância de ondulações de leste e nordeste com bom tamanho e ainda ocorrem eventuais grandes ondulações de sul e sudeste.

Beleza, até aqui você já entendeu porque a primavera é tão especial na Vila dos Tubos. Nesse período, as ondulações de sul geradas pelas tempestades se combinam com as ondulações de leste geradas pelo ASAS. Mas calma que nem tudo são flores.

Segundo a Metsul Meteorologia, a primavera de 2022 vai ser marcada pela ocorrência de La Ninã. A La Ninã é o resfriamento das águas do Oceano Pacífico equatorial

Mas o que isso tem a ver com as ondas de Regência? Vamos lá!

Além da temperatura das águas do oceano, a La Niña também muda o padrão de ventos. Como já sabemos, os ventos em alto mar são responsáveis por gerar as ondas que surfamos. Assim, durante a La Niña, as tempestades que trazem grandes ondulações podem acontecer com menos frequência, como mostra esta matéria.

Então tá tudo perdido? Calma, ainda há esperança!

“Neste ano [2022], sob La Niña, a MetSul avalia que a frequência de tempestades pode não ser tão alta como se estivessemos sob El Niño, mas quando os temporais ocorrerem podem ser muito intensos pelo maior contraste térmico entre massas de ar frio e quente.”

[Metsul Meteorologia, consulte aqui

Vale lembrar que o padrão de ventos também é capaz de bloquear a entrada de ondas. Em especial o ASAS, que dificulta a subida de frentes frias, barrando a chegada de grandes ondulações do quadrante sul para o sudeste do Brasil. Estudos apontam que durante a La Niña, o ASAS pode ser enfraquecido e assim o bloqueio das frentes frias é reduzido 3,4,5 e 6. Desta forma, as ondulações conseguem se propagar com mais facilidade e atingir a costa do sul, sudeste e parte do nordeste do Brasil.

Esquema ilustrando o enfraquecimento do ASAS durante a La Niña e consequentemente o maior avanço das frentes frias em direção ao litoral do Brasil. Fonte: Branco Eguchi.

Agora vamos para a combinação dos fatores e nosso cenário ideal para a primavera de La Ninã:

1- Uma tempestade forte se forma no sul do Brasil;

2- ASAS enfraquecido próximo ao continente, permite que a tempestade se desloque;

3- Essa tempestade se desloca, trazendo ondulações de sul;

4- A tempestade vai para mar aberto e encontra com os fortes ventos do ASAS;

5- Grandes ondulações de leste são formadas;

6- As ondulações de sul e leste atingem a praia de Regência.

Parece que vamos precisar de muita sorte pra ter altas ondas nessa primavera de La Niña, né?

Mas olha o que aconteceu na primavera de 2021, que também foi de Lá Niña.


Primavera de 2021 - Foto: Karen Bof.

Primavera de 2021 - Foto: Mariana Pandolfi.

Só nos resta manter a positividade e esperar por boas ondas, já que a Vila Mágica dos Tubos nunca decepciona. Lembre sempre do velho ditado “Só pega, quem vai”.  #SPQV.

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Referências

1- Eguchi, B., & Albino, J. (2021). Influência dos Modos de Variabilidade Climática Sobre Eventos De Ressacas No Litoral Sul Do Espírito Santo, Brasil. Revista Brasileira de Climatologia, 28, 165-183.

2- Gilliland, J. M., & Keim, B. D. (2018). Position of the South Atlantic Anticyclone and Its Impact on Surface Conditions across Brazil, Journal of Applied Meteorology and Climatology, 57(3), 535-553.

3- Kousky, V. E., Kagano, M. T., & Cavalcanti, I. F. (1984). A review of the Southern Oscillation: oceanic‐atmospheric circulation changes and related rainfall anomalies. Tellus A, 36(5), 490-504.

4- Rao, V. B., Do Carmo, A. M. C., & Franchito, S. H. (2002). Seasonal variations in the Southern Hemisphere storm tracks and associated wave propagation. Journal of the atmospheric sciences, 59(6), 1029-1040.

5- Pezza, A. B., & Ambrizzi, T. (2003). Variability of Southern Hemisphere cyclone and anticyclone behavior: Further analysis. Journal of Climate, 16(7), 1075-1083.

6- Silva, G. A. M., Ambrizzi, T., & Marengo, J. A. (2009). Observational evidences on the modulation of the South American Low-Level Jet east of the Andes according the ENSO variability. In Annales geophysicae: atmospheres, hydrospheres and space sciences (Vol. 27, No. 2, p. 645).

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Branco Eguchi é pesquisador do Laboratório de Geomorfologia e Sedimentologia da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). O enfoque de sua pesquisa é a erosão de praias e eventos de ondas extremas. Possui graduação e mestrado em Oceanografia pela UFES, onde atualmente é aluno de doutorado. Trabalha também com o projeto Oceanografia Para Todos, que faz divulgação científica através da adaptação de conteúdo para uma linguagem acessível. Desde garoto pratica pesca e surf, buscou na oceanografia uma forma de entender melhor os fenômenos que observava no mar para conseguir pegar mais peixes e principalmente ondas.

Instagram: @brancoeguchi / @oceanografiaparatodos