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Brasil

De onde vem os ventos que geram as ondas no Brasil

Branco Eguchi

Quem acompanha o surfguru já sabe que as ondas que surfamos são formadas pelo vento. A pergunta agora é: De onde vem os ventos que formam essas ondas?

Como já sabemos, os ventos sopram sobre a superfície do mar e geram as ondas que surfamos nas praias. Mas por que às vezes temos ondas na praia mas não temos vento? 

Isso acontece pois os ventos que formam as ondas sopram em mar aberto, muito distantes da costa. As ondas que quebram na praia foram formadas por ventos que sopraram horas e até dias atrás.

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Foto de Emiliano Arano (fonte: Pexels)

Mas o que é o vento? 

O vento é um movimento de ar que ocorrem por conta da diferença de pressão atmosférica. A pressão atmosférica é o peso da coluna de ar sobre a superfície da terra. 

De forma geral, quanto mais frio o ar, mais denso e mais pesado fica. Já o ar quente é menos denso e mais leve. Assim temos que a alta pressão é composta por ar frio e a baixa pressão por ar quente. Muita atenção, pois “mais quente” e “mais frio” são termos relativos. Uma massa de ar com 32ºC é bastante quente, certo? Mas se essa massa de ar estiver próxima à outra com temperatura de 40ºC, ela passa a ser a “massa de ar mais fria”.

Foto: Branco Eguchi

Agora imagine que você aperte uma embalagem de batata chips que está apoiada sobre uma mesa. O ar dentro dessa embalagem vai sair pelas laterais, correto? Isso é a resposta da massa de ar dentro da embalagem ao aumento da pressão. 

Foto: Branco Eguchi

Algo parecido acontece com os ventos, que sopram da alta pressão para a baixa pressão. Na alta pressão o ar é empurrado para baixo por conta do peso da coluna de ar. O ar se espalha na superfície da terra. Esse espalhamento direciona o ar para a baixa pressão, onde o ar se junta e sobe.


Foto: Branco Eguchi


Foto: Branco Eguchi

Os ventos não se movem em linha reta, eles fazem curvas. Isso acontece por conta do efeito da rotação da terra, conhecido como efeito de Coriolis. Assim, no hemisfério sul o vento gira no sentido anti-horário ao sair da alta pressão e no sentido horário ao entrar na baixa pressão. Chamamos de ciclone o movimento dos ventos na baixa pressão e de anticiclone o movimento na alta pressão.

Foto: Branco Eguchi

E os ventos e ondas do Brasil? 

No Atlântico sul existe uma alta pressão semi permanente, ou seja, um giro de ar no sentido anti-horário que se mantém relativamente na mesma posição e sopra de forma constante. Esse giro é chamado de ASAS (anticiclone ou alta subtropical do Atlântico sul) e é responsável pelos ventos e ondas de tempo bom, com menores alturas e períodos. 

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Foto: Branco Eguchi

Existe outra região de giros de alta pressão (anti-horário ou anti-ciclônico) que fica no sul da América do Sul. Nesta região temos a alta pressão polar ou alta polar. Estes giros diferem do ASAS pois possuem temperaturas mais baixas. Assim, quando se propagam em direção ao continente africano são acompanhados por frentes frias e ventos fortes que geram grandes ondulações.

Foto: Branco Eguchi

Por fim, ao redor da Antártida existe um corredor de ventos chamado Jato Polar. O ar do Jato Polar é muito frio e se move de oeste para leste. Dentro do jato polar existem diversos centros de baixa pressão ou ciclones, com giro no sentido horário.  Eventualmente, estes ciclones se desprendem e se deslocam do sul da América do sul em direção ao continente africano. Também acompanhados por frentes frias, ventos fortes e grandes ondulações.

Foto: Branco Eguchi

As ondas que atingem o nordeste e norte do Brasil podem ser geradas por sistemas de baixa pressão no oceano Atlântico norte. Esses sistemas de baixa pressão giram no sentido anti-horário, diferente da baixa pressão no hemisfério sul, e são chamados de furacões. Os furacões se formam no centro do oceano Atlântico norte ou próximo do continente africano. Depois se movem em direção aos Estado Unidos. Pelo caminho, os ventos fortes geram ondas altas que atingem o norte e nordeste do Brasil vindas de nordeste e norte.

Foto: Branco Eguchi

Fatores que afetam o padrão atmosférico

Vamos analisar alguns fatores que podem atuar no padrão atmosférico e ajudar ou atrapalhar a entrada de ondas no litoral do Brasil.

1. O caminho que os giros fazem ao se deslocar em direção à África: O giro da alta polar e os ciclones formados pelo jato polar se deslocam do sul da américa do sul em direção a África. Nesse caminho, passam pelo litoral do Brasil trazendo ventos e gerando ondas. Estes sistemas podem percorrer caminhos diferentes, passando mais perto ou mais longe da costa. Além disso, a velocidade que esses sistemas se movem determina por quanto tempo os ventos vão soprar. Tudo isso interfere na quantidade, qualidade, tamanho e direção das ondas geradas. Ciclones ou altas polares que passam mais perto da costa trazem mais ventos para o litoral e podem deixar o mar mexido. A situação ideal é que estes giros se desloquem a uma distância razoável da costa e em baixa velocidade. Assim os ventos fortes, associados a estes sistemas, podem ter pista e duração para gerar boas ondas.

Foto: Branco Eguchi

Os furacões no hemisfério norte podem se formar próximos da África ou no meio do Atlântico. Isso interfere no seu caminho e também nas ondas que chegam até o Brasil. Quando se formam no meio do oceano, sua atuação é mais breve e menos ondas são geradas em direção ao Brasil. Quando se formam próximos da África, os furacões passam mais tempo sobre o oceano. Assim, podem gerar mais ondas e por mais tempo.

Foto: Branco Eguchi

2. Posição dos sistemas de pressão: Basicamente entender qual sistema está produzindo as ondas e qual a interação entre os sistemas. As grandes ondulações ligadas às frentes frias podem ser geradas por giros de alta ou baixa pressão (anticiclones ou ciclones). Os giros de ar funcionam como engrenagens. O sentido do giro determina a interação com os sistemas próximos. Essa interação pode intensificar ou reduzir a velocidade, pista e duração dos ventos, ajudando ou prejudicando na geração de ondas.

Foto: Branco Eguchi

Foto: Branco Eguchi

3. Efeitos de outros sistemas: Por conta da sua constância e grande influência, o ASAS é o principal controle atmosférico no oceano Atlântico sul (1 e 2). O ASAS apresenta modificações de sua forma e posição ao longo das estações do ano. Nos meses de verão e inverno o ASAS apresenta maior intensidade e se expande. Sendo que no verão se desloca para o sul e no inverno para o norte. Já durante os meses de outono e primavera o ASAS enfraquece e se contrai (2).

Estudos sugerem que o ASAS é responsável por barrar a entrada de frentes frias (3,4,5 e 6). Assim, toda variação sofrida pelo ASAS ao longo das estações do ano reflete na quantidade e intensidade das frentes frias que conseguem chegar ao litoral brasileiro. No verão o bloqueio é maior devido a maior intensidade, tamanho e posição do ASAS. Já nos demais meses o bloqueio gerado pelo ASAS é menor e as frentes frias conseguem trazer ondas com mais frequência ao litoral.

Foto: Branco Eguchi

No hemisfério norte a temporada de furacões está muito ligada ao efeito da La Ninã. A La Niña representa um período de esfriamento das águas do oceano pacifico próximo ao equador. Esse padrão favorece a formação de furacões no oceano Atlântico Norte, principalmente nos meses de agosto, setembro, outubro e novembro.

Foto: Branco Eguchi

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Referências

1- Lübbecke, J. F., Burls, N. J., Reason, C. J., & McPhaden, M. J. (2014). Variability in the South Atlantic anticyclone and the Atlantic Niño mode. Journal of Climate, 27(21), 8135-8150.

2- Sun, X., Cook, K. H., & Vizy, E. K. (2017). The South Atlantic subtropical high: climatology and interannual variability. Journal of Climate, 30(9), 3279-3296.

3- Silva, G. A. M., Ambrizzi, T., & Marengo, J. A. (2009). Observational evidences on the modulation of the South American Low Level Jet east of the Andes according the ENSO variability. In Annales geophysicae: atmospheres, hydrospheres and space sciences (Vol. 27, No. 2, p. 645).

4- Pianca, C., Mazzini, P. L. F., & Siegle, E. (2010). Brazilian offshore wave climate based on NWW3 reanalysis. Brazilian Journal of Oceanography, 58(1), 53-70.

5- da Silveira Pereira, N. E., & Klumb-Oliveira, L. A. (2015). Analysis of the influence of ENSO phenomena on wave climate on the central coastal zone of Rio de Janeiro (Brazil). Revista de Gestão Costeira Integrada-Journal of Integrated Coastal Zone Management, 15(3), 353-370.

6- Eguchi, B., & Albino, J. (2021). Influência dos Modos de Variabilidade Climática Sobre Eventos De Ressacas No Litoral Sul Do Espírito Santo, Brasil. Revista Brasileira de Climatologia, 28.

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Branco Eguchi é pesquisador do Laboratório de Geomorfologia e Sedimentologia da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). O enfoque de sua pesquisa é a erosão de praias e eventos de ondas extremas. Possui graduação e mestrado em Oceanografia pela UFES, onde atualmente é aluno de doutorado. Trabalha também com o projeto Oceanografia Para Todos, que faz divulgação científica através da adaptação de conteúdo para uma linguagem acessível. Desde garoto pratica pesca e surf, buscou na oceanografia uma forma de entender melhor os fenômenos que observava no mar para conseguir pegar mais peixes e principalmente ondas.

Instagram: @brancoeguchi / @oceanografiaparatodos

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