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Adeus a minha prancha? Sim, por um planeta mais sustentável

Cátia Braga

Querer pode não estar alinhado com o poder. Queremos ter muitas coisas e acumulamos sem parar. Conversei com surfistas que amam pranchas e têm muitas, mas param pra pensar quando o assunto é sustentabilidade. Precisamos de tanto?

O surf é um estilo de vida e todos, ou quase todos, os surfistas são soldados da natureza, como poeticamente citou o surfista e professor de surf da maior Praia do Mundo, a Praia do Cassino, Claudio Touguinha

Touguinha, como é conhecido, ministra aulas e cursos de surf e conversamos sobre sustentabilidade, proteção à natureza e sobre como descartar uma prancha adequadamente. 

“Luto e brigo pela praia tentando preservar o máximo.”

- Prof. Touguinha, do Projeto Surf para a vida.


Você sabia que os materiais para a  confecção de uma prancha são muito prejudiciais para a natureza e ao meio ambiente em geral? Mas existem materiais mais sustentáveis. Vem comigo!

A primeira coisa que notei ao falar com alguns surfistas e por experiência de ter um irmão surfista é que todos querem ter muitas pranchas. Ou querem tê-las por amá-las simplesmente e fortemente; ou por enfrentarem diversos tipos de ondas, assim várias pranchas (uma para cada tipo de onda). E dentro desse contexto a pergunta é: será que é mesmo necessário ter tantas? 

Um dos componentes das pranchas de surf são as resinas, material que reveste os blocos das pranchas. Os blocos podem ser de poliuretano (PU) ou Epoxy (EPS). 

Os surfistas mais ligados sobre pranchas que causam menor impacto ambiental já escolhem a prancha de EPS, que é menos poluente. Já o PU é um plástico de difícil reciclagem que, além de não ter tanta flutuabilidade, “empaca” mais, conforme relataram alguns surfistas. Esses materiais além de outros presentes em diversos acessórios de surf são muito poluentes, por isso é muito importante conhecer cada um deles (saiba mais nessa matéria) e procurar os lugares certos para que eles sejam descartados. 

Conversei com o diretor presidente na OCEANO Confecção Surfwear Ltda, Affonso Eggert Junior, que mora em Joinville, Santa Catarina e entende muito de sustentabilidade e ele me disse: 

“Daqui há algum tempo lojas ou fábricas de pranchas aceitarão pranchas antigas como pagamento e assim, farão o descarte correto ou até para reciclagem.” 

Então, o que fazer com minha prancha velha?

Com a ajuda dos meus 2 convidados, aqui vão 3 dicas (interessantíssimas) para você reutilizar sua prancha velhinha.

1. Doe para as crianças que estão aprendendo surf 

O professor Touguinha me falou: “Eu doo minhas pranchas, pensando na sustentabilidade e para ajudar os moleques que estão no surfe e que não tem condição de comprar”. Lindo e inspirador esse gesto. 

E falando em doar. Em outubro do ano passado, na praia do Cassino, através do Projeto Surf para a vida (conheça o projeto assistindo o vídeo abaixo) um aluno do Touguinha, o jovem Luis Felipe, de 12 anos, foi personagem de uma reportagem do Globo Esporte aqui em Rio Grande, minha cidade do coração, por ganhar uma prancha de surf, mas nesse caso foi uma novinha de um super campeão. 

Prof. Touguinha e o aluno Luiz Felipe em um dia de aula. Fonte: RBSTV

O campeão mundial de 2019 e ouro nas olimpíadas de Tóquio, Ítalo Ferreira, doou uma prancha para o aluno surfista quando soube que ele simulava surfar com uma caixa de plástico no quintal de casa. Essa história fez muita gente chorar, inclusive o próprio Ítalo.

“Um presente para você, espero que aproveite essa oportunidade para continuar evoluindo. Que a gente possa se encontrar lá na frente, surfar junto”, disse Italo, em vídeo mandado a Luiz Felipe.

Veja esse vídeo AQUI e se emocione. 

Ítalo Ferreira também enfrentou a falta de recursos para ter uma prancha. Ele surfava em uma caixa de isopor como prancha na Baía Formosa, no Rio Grande do Norte, onde vivia.

Luiz Felipe com sua prancha nova, doada por Ítalo Ferreira. Fonte: Projeto Surf para Vida 

2. Transforme sua prancha antiga em arte

Meu colega e meteorologista, Gustavo Schiavon Neves, riograndino, Cassineiro (quem frequenta a Praia do Cassino), atualmente, não faz a previsão do tempo,  mas certamente ele prevê que o planeta ficará bem melhor com a sua arte, arte com pranchas, principalmente. 

Gustavo começou a pintar, “fazer arte”, quando era criança e recomeçou após um hiato de 10 anos, devido trabalho e estudos. Posso afirmar, ele recomeçou com R de RECICLAGEM e com uma arte requintada, de um bom gosto incrível. 

Algumas das artes feita pelo Gustavo.

O artista utiliza pranchas que poderiam ir para o lixo e as transforma em um artigo raro, único com as impressões da pessoa que a encomendou. Essa é a segunda dica: Transforme suas pranchas em arte, você mesmo, ou contrate o Gustavo. 

3. Faça um bazar de pranchas e outros equipamentos de surf 

A ideia foi do diretor presidente na Oceano Confecção Surfwear Ltda. Ele acredita que um bazar reunirá várias pranchas à disposição para os alunos de surf, sobretudo os carentes.

Se você ainda puder, separe outros equipamentos e acessórios de surf para disponibilizar nesse bazar, desde que em bom estado, como leash, cordinha, parafina, wetsuit (roupas de borracha), maiôs, biquinis, deck, quilhas, capas, suportes, etc. Aproveite e convide seus amigos para se unirem a você para tornar seu bazar ainda maior e incentivar que as pessoas comprem e contribuam com essa ideia sustentável.

O que mais eu posso fazer pra diminuir o impacto do meu surf no meio ambiente?

Pense no seu meio de transporte para o seu pico favorito. Para ir para o seu surf, vá de bicicleta, skate ou a pé; ou ainda, se a sua única opção é ir de carro, chame mais amigos para dividir a carona. Assim você reduz ainda mais o impacto na natureza. 

E por último, mas não menos importante, cuide muito bem dos seus equipamentos de surf. Cuidando, eles duram mais tempo e quanto mais você fizer eles durarem, mais tempo eles estão com você e automaticamente, menos tempo eles estão na natureza, degradando e poluindo. 

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Cátia Braga é Meteorologista, Mestre em Meteorologia e Educadora Ambiental. É da Praia do Cassino, a maior praia do mundo, e sempre gostou de tudo que natureza nos presenteia. É uma meteorologista que ama a atmosfera, mas também o mar. aMAR. Saudações Meteorológicas!

Instagram: @meteorologistacatiabraga

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