Vida longa ao Super Surf!

"Os últimos três anos foram de consolidação do surf brasileiro no circuito mundial. Passamos a vencer mais campeonatos, tanto no CT quanto no QS. Foi o chute na porta dos brasileiros, que passaram de coadjuvantes a protagonistas."

15/Out/2015 - Marcelo Andrade - Brasil

"O título do Medina é a maior prova do novo patamar alcançado por nossos atletas. Porém, dentro deste mesmo período, o circuito nacional perdeu força e os atletas fora do circuito mundial ficaram à deriva. Muitos perderam o patrocínio e a situação chegou a um ponto em que todos ficaram preocupados com as futuras gerações. Como produziríamos mais Medinas e Filipinhos sem competições? Como formaríamos novos ídolos? A verdade é que ficamos mal acostumados com o Super Surf e com o Brasil Surf Pro. Tinham estruturas de circuito mundial, com premiações que beiravam aos cem mil dólares por etapa. Voltar a participar somente de regionais foi um retrocesso para os atletas depois de mais de uma década de circuitos milionários. Para as meninas foi ainda pior, porque nem regionais tiveram para alimentar suas carreiras. Três anos de extrema dificuldade para os homens e de sofrimento para as mulheres. Com a Copa do Mundo e as Olimpíadas, as grandes empresas deixaram o surf em busca de maiores oportunidades de retorno. A previsão era de melhora somente depois de 2016, mas a conquista de um título mundial, e a visibilidade que isto proporcionou, adiantou o processo de retomada dos investimentos das grandes empresas no surf nacional. A magnitude do evento do CT da Barra da Tijuca aumentou ainda mais o espaço do esporte nas mídias não especializadas e o surf virou moda novamente. Gabriel Medina se tornou o ídolo da vez. Depois de Ayrton Senna, Gustavo Kuerten, e Neymar, Medina se tornou uma referência e o garoto propaganda de várias marcas. O fracasso do Brasil na Copa e as poucas possibilidades de sucesso nas Olimpíadas fizeram as empresas repensarem suas ações estratégicas.

Neste embalo ressurgiu o Super Surf. Voltou mais modesto na premiação, mas com a estrutura de antigamente. A Abrasp, Evandro Abreu e a editora da revista Hardcore se juntaram para o renascimento do projeto. Conseguiram trazer a empresa de telefonia Oi como patrocinadora principal e também a Furnas e a Smolder para completar as cotas. Trouxeram de volta o mais importante circuito nacional de todos os tempos. Mesmo com uma das piores crises econômicas que vivemos, o projeto seguiu em frente. A empolgação dos atletas foi a maior possível. Seria uma nova possibilidade de impulsionar a carreira, de conquistar novos patrocínios para os seus bicos.

As meninas não puderam comemorar como os rapazes porque ficaram fora do projeto. De qualquer forma, foi um grande recomeço. Acompanhei de perto três das quatro etapas e posso afirmar que a importância desta volta foi extrema. Os números comprovam mais que as minhas palavras. Foram 160 inscritos nos três primeiros eventos e 156 no último. A quantidade de internautas acompanhando os eventos foi bem significante. Mesmo com etapas do CT nas mesmas datas, o Super Surf teve muita audiência. Amigos, parentes, fãs e amantes do esporte acompanharam as disputas através de seus computadores, tablets e smartphones. A revista Hardcore deu ampla cobertura e até as concorrentes prestigiaram com algumas páginas de matéria sobre o circuito. Vários veículos não especializados dividiram o espaço do CT com o Super Surf. Até nisto demos sorte.

O circuito mostrou o confronto de gerações e os atletas mais novos foram muitas vezes surpreendidos pelos mais experientes. Leo Neves, perto dos 35 anos, ficou em segundo lugar em Floripa e venceu várias baterias nas outras etapas. Até o final disputou o título de campeão do Super Surf. Além dele, Victor Ribas, com seus 43 anos, mostrou surf de garotão. Por outro lado, Samuel Pupo, Lucas Silveira, Wesley Dantas, Marcos Côrrea, Wesley Santos, Deivid Silva e outros nomes que não lembro agora nos deram esperanças de seguirmos no topo do surf mundial por mais alguns anos. Estou muito confiante nessa garotada. Depois de quatro etapas e trezentas e trinta e duas baterias, o capixaba Kristian Kimerson se consagrou o grande campeão do circuito. Foi a primeira vez que um atleta do estado venceu um circuito de nível nacional profissional. Representou muito para o ES, mas o título de campeão brasileiro de 2015 só sairá depois de uma etapa em Torres, que não faz parte do Super Surf. Acredito que em 2016 isto não acontecerá. Na minha opinião, foi uma tremenda confusão explicar este fato para a imprensa.

Posso afirmar que o Super Surf estava fazendo muita falta para o surf brasileiro. Sua volta levantou a autoestima dos atletas e abriu novos horizontes para as novas gerações. Aumentou a visibilidade dos atletas, possibilitando novas possibilidades de patrocínio para eles. É um recomeço que precisa de tempo para atingir seu antigo patamar. Quem gosta do esporte como eu, tem que torcer muito por isto. Vida longa ao Super Surf !!"

Por Marcelo Andrade/Surf100comentários