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Fortaleza - Ceará - Brasil

Surf sem apoio

Kelen Tostes

Até onde vai seu sonho? Surf, esporte dos reis polinésios, sonho de ser campeão mundial, ser um ícone neste esporte reconhecido nos quatro cantos, surfar as ondas mais perfeitas... Qual o surfista não tem esse sonho?

Um esporte único, que somente aqueles que têm água salgada nas veias sabe explicar a razão da busca incansável da onda dos sonhos e para aqueles que se profissionalizam e travam como objetivo viver desta profissão o desejo maior de tornar-se o melhor do mundo.

Diariamente aparecem novos adeptos, novos talentos, e uma molecadinha que apresenta um surf de manobras cada vez mais progressivas, que ainda não tem nem tamanho, mas já sabe o que quer desde cedo, ser surfista profissional.

O surf ganhou uma maior visibilidade na mídia em várias vertentes, o preconceito deu lugar há um espaço que antes não se via no esporte, mas ainda há muito o que mudar, grandes nomes do surf brasileiro foram revelados para o mundo, vários do Nordeste, terra de cabras da peste e comedores de rapadura que encaram qualquer desafio para alcançar seus sonhos.

Mas uma maré ruim tem tornado o drope complicado para muitos dos atletas da nossa região, o circuito brasileiro deu uma enfraquecida, assim como o nordestino, eventos estaduais e este ano até uma etapa do WQS em Trestles foi cancelada devido a situação econômica. Com a falta de competição aliada a crise e outros fatores, muitos profissionais foram dispensados por seus patrocinadores o que tornou difícil, porém não impossível, para levar o sonho de viverem do surf adiante.

Alguém saberia dizer o motivo para vermos tantos atletas sem apoio? Pirataria? Crise financeira? Outros propósitos de marketing das marcas? Falta de empresas para patrocinar grandes eventos, o que causa um efeito dominó?

Mesmo com toda a dificuldade, muitos destes atletas continuam firmes treinando e correndo atrás do sonho, viver do surf.

“Eu vim de uma família muito humilde que sempre me motivou muito para que eu correr atrás de realizar meus sonhos, sempre consegui minhas coisas lutando muito, mas no surf não tem como realizar os objetivos sem que uma empresa acredite no seu potencial e apesar dessa crise toda tenho fé que tudo isso vai passar e melhorar para todos nós”, disse Artur Silva, tricampeão cearense open.

“Estou muito triste com a atual situação, tanto para mim, como para vários outros atletas com muito potencial, como Michel Rock, Adilton Mariano, Pablo Paulino, etc... A circunstância é ruim para nós que vivemos do surf, pois fica muito complicado ir para os eventos fora do Estado, principalmente em lugares onde há necessidade de comprar passagens aéreas, pagar hospedagem, alimentação, tudo do próprio bolso, chega uma hora que fica completamente inviável arcar com estas despesas. Por isso, posso afirmar que todos os atletas sem patrocínio são verdadeiros guerreiros por que continuam correndo atrás do sonho. Fui para Noronha agora sem patrô, mas fui em busca do meu sonho. É difícil, mas e a atual realidade de muitos que muitos. Enquanto eu tiver talento e saúde para competir vou continuar correndo atrás do meu sonho, não irei desistir tão fácil, por que eu amo surfar”, disse o tetracampeão cearense Edvan Silva.

“É difícil seguir em frente sem patrocínio, eu já provei que fui f..., mas não foi suficiente, ou você trabalha para viver ou passa mal surfando, é aquele ditado se você só surfa como vai pagar suas contas? Se você trabalha como vai fazer resultados? No meu caso nunca consegui um patrocínio de verdade, meus pais moram em Cascavel já fazem sete anos, se eles morassem aqui em Fortaleza eu não me preocupava muito com isso, pois eu teria uma base e o meu foco seria só treinos. Do contrário tive que dá meus pulos, ganhei um campeonato nordestino pro com 17 anos, eu ainda era amador, coisa que ninguém fez até hoje. Devido a dificuldade nunca fui 100% para as etapas, às vezes nem treinava, mas Graças a Deus tenho o dom, hoje em dia as coisas estão um pouco melhores, é tão bom ir para um campeonato sem pedir nada a ninguém, e o mais legal é ir lá é fazer o resultado. Na minha opinião não podemos esperar por ninguém, é arriscar, se deu certo deu, se não, pelo menos tentou...desistir nunca! É o que venho fazendo tentando sem patrocínio, só na força de Deus, em busca do sonho”, falou José Milton.

“Sem patrocínio não dá para você estar 100% focado no surf, até porquê você tem que sobreviver e arrumar alguma outra forma de pagar as contas, conseguir viajar para as competições. Às vezes me pergunto porque ainda acredito que posso continuar a viver meu sonho? No certo eu não sei, mas aquele garoto de 13 anos que queria ser profissional ainda existe dentro de mim e junto com algumas pessoas que acreditam em tudo isso, como meu preparador Thiago Araújo, meu pai Marcelo Bibita e meus amigos. Continuo a acreditar que é só uma fase e a qualquer momento as coisas podem mudar. Hoje eu faço dois treinos por dia, um pela manhã com meu pai, que é mais técnico e específico para as baterias, e pela tarde faço a preparação física com o professor Thiago Araújo. No momento me preparo para a minha primeira competição do ano o WQS, na Argentina nos dias 29 de março a 02 de abril”, declarou Ícaro Lopes.

“A falta de patrô desanima qualquer um, mas dá um motivo a mais para treinar forte e obter bons resultados para que possa ter oportunidade de representar uma marca. Como vamos evoluir se dependemos de um patrô para viajar, treinar em ondas diferentes, participar dos eventos nos outros estados. Só treinando não dá para sobreviver, é muito triste ver vários atletas com currículo de peso com diversos títulos saindo do surf por falta de apoio. O sonho segue, mesmo que cada vez mais distante, o sonho não diminui, só aumenta...realizei vários sonhos no mundo do surf, posso realizar esse também, viver dele”, Adriano Santos.

“Desde o início de 2012 que estou sem patrocínio. Isso dificulta a vida de qualquer atleta, porque além das competições e matérias que utilizamos no decorrer do ano, temos também uma vida particular com gastos diários, etc...É complicado, bate um desânimo, mas temos que ter foco e muita concentração naquilo que queremos e sonhamos. Espero que o quanto antes essa situação seja resolvida, não só pra mim, mas para outros atletas que estão passando pela mesma dificuldade”, Michel Roque.

Esses depoimentos são de alguns atletas cearenses, existem inúmeros outros que estão na mesma situação, mas que também continuam na guerra. Um grande exemplo é Adilton Mariano que tem se destacado e mesmo sem apoio tem mostrado que o surf está no seu DNA.

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