PF Investiga Atuação Criminosa de Surfistas em Santa Catarina
Sete praias de Florianópolis, Litoral Sul e Norte estão na mira da polícia. Vídeo gravado em 5 de agosto flagrou violência corriqueira de localismo.
20/Ago/2014 - G1 Santa Catarina - Florianópolis - Santa Catarina - BrasilA Polícia Federal investiga a atuação criminosa e violenta de surfistas por restringir o acesso ao mar e as ondas de pessoas que não são moradoras da praia que frequentam, a investigaçaõ ocorrem em pelo menos sete praias de Santa Catarina. De acordo com o delegado Luiz Carlos Koff, a investigação ocorre desde 2006.
Em vídeo, um banhista registrou no dia 5 de agosto um homem de 44 anos sendo agredido por quatro surfistas no mar do Campeche, praia da região Sul de Florianópolis, por 'pegar uma onda' em um local que era de 'propriedade' dos surfistas locais. Um dos suspeitos de agressão é o policial militar Elton da Silva Pires, que teria se sentido ofendido após uma colisão de pranchas no mar, segundo a vítima.
"Isso aí que chamam de localismo na verdade é crime. Nos temos atos de formação de quadrilha pra cometer crimes de ameaça, constrangimento ilegal, dano e lesões corporais", informou o delegado.
As praias na mira da investigação ficam por em toda a extensão do litoral catarinense. Em Florianópolis, Joaquina, Campeche e Matadeiro estão em foco. No Litoral Sul, a Praia da Silveira de Garopaba e a Praia da Vila em Imbituba, além das praias do Farol de Santa Marta foram mapeadas. Segundo a PF, um dos locais de surfe mais violentos do país é a Praia do Atalaia, em Itajaí.
"Não existe qualquer possibilidade legal de alguém se sentir com mais direito de usar um determinado ponto da praia por morar nas proximidades com relação a quem não mora nas proximidades", reforça Koff.
Policiais envolvidos
A PF afirma ter policiais que praticam o surfe para proteger banhistas. "Nas horas de lazer, esse policiais estão orientados a fazer esse flagrante nos que procuram usar de violência ou intimidação para que pessoas deixem de usar a praia", alegou Koff.
O PM Elton da Silva Pires, integrante do 4º Batalhão de Florianópolis, não quis falar com a reportagem do G1 e RBS TV. A Polícia Militar instaurou um inquérito para investigar a conduta do acusado.
Segundo depoimentos de outros frequentadores da praia, no Campeche outros dois policiais estariam envolvidos em ações criminosas. "Eles entram na água já intimidando pra arrumar confusão", disse um homem que preferiu ficar no anonimato. "Na maioria das vezes [eles estão armados] sim. E é dessa forma que eles intimidam os surfistas de fora. Incitam vandalismo para quebra de carro, para nunca mais você voltar, familiares e tudo", diz.
A Polícia Civil informou que um termo circunstanciado foi aberto para investigar o caso da agressão na Praia do Campeche.
Agressão no Campeche
Alessandro Castro, conhecido como Rato, teve quatro pontos no rosto e diversas escoriações no corpo depois de ter sido espancado por quatro homens. Segundo a vítima, a confusão começou no mar depois de uma colisão de pranchas no mar. "Quando levantei após a batida [de pranchas] perguntei pra ele: você não me viu? E ele me falou foi o seguinte: primeiro eu'.
"Fui perseguido por três e mais um de jet ski dando cobertura. [Ele] me trancando para os outros me alcançarem. E ainda tentaram me afogar", afirmou Rato, que registrou um boletim de ocorrência.
O policial Pires também fez B.O., alegando ter sido agredido por Rato e que lesionou dedos. Segundo depoimentos, Pires é conhecido como um dos líderes de um grupo local que restringe o acesso de surfistas ao mar.
Localismo
Surfista 'de fora' é considerado um esportista que não nasceu ou não costuma frequentar a praia. O movimento histórico é conhecido no surfe como localismo. Segundo Rato, ele costuma surfar em Florianópolis há mais de 30 anos. Entretanto, ele não é morador do bairro Campeche.
O surfista Kiko denuncia a situação corriqueira. "Uma agressividade violenta, de bater, cercar, quebrar a prancha, puxar a cordinha". Ele reafirma que a praia é dominada por um grupo que é comandado por um líder, 'um surfista antigo na região da comunidade', mas preferiu não revelar o nome.
A reportagem da RBS TV, após duas semanas de investigação, chegou ao nome de Adilson Vieira, de 52 anos, que tem o apelido de Cupim. Segundo ele, moradores da região têm preferência no 'pico' do surfe. "No mínimo, em um dia bom, tem 30, 40 caras da praia. Eles não vão deixar um cara que eles mal conhecem entrar na onda".
Questionado sobre o localismo na praia, fez a comparação: "[Tu] tá no teu trabalho, tá chegando um cara novo, ele vai pegar tua cadeira boa? Tu não vai deixar. É do ser humano isso", conclui.
Reportagem reproduzida do site g1.globo.com/sc
Video: Caso de localismo na praia do Campeche gera ação da Polícia Federal