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Brasil

Navegando pelos (e para os) oceanos

Equipe Surfguru

Você sabe qual é o impacto do seu consumo nos oceanos e na vida marinha? Veja como a Expedição Sailing For the Oceans, da Parley Brasil, pode revelar tanto sobre os nossos hábitos.

Os oceanos cobrem cerca de 2/3 do planeta terra e são fonte de alimento e renda para bilhões de pessoas ao redor do mundo. São importantes reguladores da temperatura do planeta, absorvendo boa parte do calor gerado e cerca de 90% de todas as emissões de CO2. Aproximadamente 50% do ar que respiramos são os oceanos que produzem, ou seja, a cada 2 respirações, pelo menos 1 vem dos oceanos. 

Sabemos que os oceanos abrigam tamanha diversidade e eles têm tantas “responsabilidades” em relação à saúde do planeta terra e à nossa, mas ao mesmo tempo também não sabemos até onde nosso impacto chega.  

Hoje apenas aproximadamente 5% da vida marinha é conhecida e o fundo do mar é mais desconhecido que o solo lunar. Isso é só pra mostrar como somos tão pequenos em relação aos oceanos. Se mal os conhecemos, também é impossível conhecer o tamanho do prejuízo que estamos causando a eles. 

Até onde existe plástico? Quantos milhares de quilômetros o lixo pode viajar pelos mares? Até onde vai a poluição química, tão (senão mais) difícil de rastrear? Quantas espécies já foram extintas ou estão em processo de extinção por causa das ações antrópicas? Quanto dos recifes de coral ainda restam?


Atualmente, segundo a International Solid Waste Association (Associação Internacional de Resíduos Sólidos) chegam aproximadamente 25 milhões de toneladas de resíduos nos oceanos por ano e a maior parte dele tem origem continental, seja da indústria, falta de saneamento e coleta de lixo em rios e praias e má gestão de resíduos pelas grandes cidades. Estima-se que, se não mudarmos a forma como consumimos, em 2050 vai ter mais plástico do que peixes nos oceanos. 


Preocupados com o impacto humano sobre os oceanos, a Parley Brasil, através do Projeto Sailing for the Oceans (“Navegando pelos oceanos”) veio mostrar pra nós o tamanho desse impacto e ao mesmo tempo buscar formas de acabar com a destruição dos oceanos. O projeto é uma plataforma itinerante da Parley Brasil – um ambiente colaborativo e um laboratório flutuante onde ideias, práticas e soluções são exploradas a fim de enfrentar a poluição por plástico e as mudanças climáticas. 

Foto: Analice Diniz (@analicediniz)

Nesta 3ª edição, a expedição do projeto Sailing for the Oceans partiu de Angra dos Reis/RJ, no dia 8 de Junho de 2021, Dia Mundial dos Oceanos, rumo à Ilha Grande. O objetivo da expedição era ao longo de 4 dias navegar pela Ilha Grande (Lagoa Azul, Aventureiro e Praia do Sul), fazendo mutirões de limpeza, se desafiando a experimentar o desafio "desperdício zero", e propondo atividades socioambientais com moradores da Praia do Aventureiro e com a equipe do INEA, órgão ambiental do Estado do Rio de Janeiro responsável pela gestão do Parque Estadual da Ilha Grande, Reserva de Desenvolvimento Sustentável de Aventureiro, Reserva Biológica da Praia do Sul e APA Tamoios, Unidades de Conservação da Natureza existentes na Ilha Grande, objetivando o fortalecimento da relação dos participantes com os oceanos e os cuidados necessários para mantê-los saudáveis.

Foto: Analice Diniz (@analicediniz)

Através da aprendizagem experimental, a tripulação passou por um processo de imersão nos conceitos básicos da navegação e de uma vida a bordo. Utilizando o veleiro como um microcosmo do mundo, a tripulação enfrentou o desafio de viver em um ambiente restrito, reconhecendo a possibilidade de levar as lições aprendidas a bordo de volta para terra.

Durante a viagem, a tripulação seguiu a estratégia Parley A.I.R – (Avoid, Intercept, Redesign), que significa “Evitar, Interceptar e Redesenhar” um mundo sem plástico. Praticando um estilo de vida sem desperdício e uma dieta consciente, evitaram o plástico e reduziram suas contribuições de CO2 e de gás metano. Ao executar mutirões de limpeza, interceptaram a poluição por plástico que prejudica o meio ambiente. Ao discutir formas de melhorar seus estilos de vida, políticas governamentais e os produtos que usam e criam, redesenharam um mundo melhor.

Para a expedição, Juliana Poncioni (@ju_nas.mares) - Diretora Parley Brasil e Comandante da expedição selecionou uma equipe de tripulantes multidisciplinar, que foram: Maria Dupuy (@mar_masita) - Marinheira, Luenne Coelho (@luenne.bioarch) – Bioarquiteta, Juliana Mitkiewicz (@jumitk) - Engenheira Ambiental, Muana Martins (@muana.martins) – Internacionalista, Evelyn Silva (@evelynda.sg) – Estudante, Clara Lobo (@claralobo) – Videomaker, e Analice Diniz (@analicediniz) – Fotógrafa.

Também contaram com colaboradores e apoiadores que auxiliaram com os objetivos da expedição, que foram:  Brasil Yacht Charter (@brasilyachtcharter), Inea RJ (@rj_inea), Surfguru Pro (@surfgurupro), Trechy.etc (@trechy.etc) Marulho eco (@marulhoeco), Puresun Brasil (@puresunbrasil), Ciclo orgânico (@cicloorganico) e De alma lavada (@de.alma.lavada).

Antes e durante a expedição, a tripulação fez o constante monitoramento das condições meteorológicas da região, com o auxílio do Surfguru Pro.  Em razão da chegada de um grande marulho (ondulação grande) e de previsões de ventos fortes de sudoeste, as condições se mostraram desfavoráveis a navegação no "lado de fora" da Ilha Grande (como era previsto o plano inicial), por isso optaram por mudar a rota prevista para manterem-se em área abrigada, proporcionando uma navegação e pernoite em condições seguras. Através da consulta do histórico da previsão, vantagem oferecida para os assinantes do Surfguru Pro, foi possível comparar a previsão da expedição anterior com a atual. “Muitas vezes é difícil a partir da previsão, só da previsão, ter uma boa ideia de como vão estar as condições na prática” – disse Juliana. Isso foi essencial para verificar que as condições atuais (que eram diferentes das condições na expedição anterior) não estariam boas e seguras para a navegação. 

Utilização do Surfguru Pro para planejamento da navegação. Foto: Analice Diniz (@analicediniz)

Então devido à essas condições desfavoráveis e para manter a segurança da navegação e da tripulação, uma nova rota foi traçada e voltada para o Saco do Mamamguá (na Reserva Ecológica Estadual da Juatinga - REEJ, em Paraty/RJ, unidade de conservação também sob gestão do INEA), onde a tripulação foi muito bem recebida pela Associação de Moradores e Amigos do Mamanguá. Lá foi possível visitar uma cachoeira local, super preservada e onde encontraram um ancoradouro seguro e confortável para fazer a pernoite, em área abrigada. A navegação também foi feita até o ancoradouro de Sítio Forte, um outro local seguro para a ancoragem, visto as condições ruins do lado de fora da Ilha Grande. E a praia de Lopes Mendes, onde ocorreu um dos mutirões de limpeza, e que também fica voltada para mar aberto, foi acessada por trilha a partir da Praia do Pouso, onde também foi possível ancorar em condições seguras.

Saco do Mamanguá, Paraty/RJ. Foto: Analice Diniz (@analicediniz)

 

Quantidade de resíduo evitado pelo desafio desperdício zero 

Para atingir esse objetivo, foram feitas várias reuniões antes da expedição para mapear onde, no dia a dia das pessoas que iriam tripular a expedição, era produzido mais resíduos em casa. E a partir desse mapeamento colaborativo, com apoio de todas as tripulantes, foram propostas alternativas inovadoras, que pudessem substituir e resolver o problema no lixo produzido no dia a dia de cada uma. Veja quais foram algumas das alternativas adotadas:

  • todas as tripulantes usaram suas próprias garrafinhas de água para reposição de água e a água para consumo foi viabilizada através de galões de água de 20 litros, que podem ser reutilizados diversas vezes;
  • escovas de dente de bambu foram usadas, ao invés de escovas de dentes convencionais; 
  • utilização de absorvente de pano, calcinha absorvente ou coletor menstrual para quem estivesse no período menstrual;
  • não foi utilizado papel higiênico, utilizando apenas o chuveirinho e lavando bem as mãos após o uso do banheiro;
  • utilização de shampoo e condicionadores em barra, embalados em papel;
  • utilização de óleo de coco ou outro óleo vegetal como hidratante corporal;
  • foi utilizada bucha vegetal para limpeza e higienização de utensílios e depois destinada para a compostagem; 
  • o protetor solar era composto de ingredientes naturais e que não agridem os corais, além de vir em embalagem de metal (e não de plástico como é normalmente); 
  • oficinas de produção de produtos de higiene pessoal, como desodorante natural e pasta de dente, com todos os ingredientes comprados em casas a granel, com a utilização de embalagens ou potes reutilizáveis; 
  • todos os alimentos também foram comprados em casas a granel, usando seus próprios saquinhos de pano; 
  • todas as frutas e verduras eram orgânicas e foram compradas de pequenos produtores locais;
  • todos os resíduos de alimentos foram devidamente destinados para a compostagem posteriormente ao final da expedição;

Segundo o Panorama de Resíduos Sólidos no Brasil 2020, da ABRELPE - Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais, a Geração per capita (kg/hab/ano) do sudeste foi de 440,9 kg de resíduos sólidos domésticos, ou o equivalente a 1,2 kg por dia (kg/hab/dia) . Em uma semana cada brasileiro "produzem" 1,52 milhões de toneladas de resíduos sólidos, o equivalente ao peso de 6,6 navios de cruzeiro! Considerando os dados da ABRELPE, o desafio de viver o "Desperdício Zero" permitiu que a tripulação evitasse aproximadamente 38,65 kg de resíduos ao final da expedição de 4 dias.

Interceptação de lixo: resultado dos mutirões de limpeza

Foram realizados três mutirões de limpeza: na Lagoa Azul (APA Tamoios, Ilha Grande) foram interceptados aproximadamente 340 kg de resíduos, na Ilha da Gipóia (APA Tamoios, Angra dos Reis) foram interceptados aproximadamente 70 kg de resíduos e da Praia de Lopes Mendes (Parque Estadual da Ilha Grande), foram interceptados aproximadamente 119 kg de resíduos. No total foram recolhidos um total aproximado de 529 kg de resíduos, sendo que a maioria foi plástico, uma grande parte foi resíduo doméstico e uma pequena parte de resíduos da indústria da pesca. Todos os resíduos coletados foram levados pela equipe do INEA para o ponto de coleta da empresa de limpeza urbana de Angra dos Reis/RJ. A mesma fez a destinação dos recicláveis a uma empresa local de reciclagem.

Resíduos coletados durante um dos mutirões de limpeza. Foto: Analice Diniz (@analicediniz)

Próximos passos: redesenho 

A Parley Brasil, através do projeto Sailing for the Oceans, quer seguir evoluindo e expandindo esse projeto, pra que ele possa alcançar toda a costa brasileira.  Imagina se mais brasileiros tiverem acesso à informação, terra, comida saudável e de verdade e opções de alimentos sem embalagens únicas?! 

Na costa Brasileira vivem cerca de 50,7 milhões de habitantes (segundo o censo 2010). O sonho do Sailing for the Oceans é navegar a costa do Brasil, ajudando a expandir esse conhecimento e impulsionar soluções locais, bem como inspirar e acelerar as mudanças necessárias para proteger os oceanos. 

Levando em consideração que a natureza é cíclica, você gostaria que essa experiência fosse vivida por outras pessoas? Doe e compartilhe: https://fundraise.parley.tv/fundraiser/3318946  

Aliás, você também pode se candidatar para as próximas expedições. É só se inscrever nesse link: https://bit.ly/SFTOinscrição

Para informações sobre expedições corporativas e para receber mais informações do Sailing for the Oceans, envie um e-mail para juliana@parley.tv

Sobre Juliana Poncioni, Diretora da Parley Brasil e Comandante da Expedição Sailing for the Oceans

Foto: Analice Diniz (@analicediniz)

Mergulhando na natureza, Juliana começou a velejar aos 12 anos de idade e passou a velejar profissionalmente e até mesmo a treinar para as Olimpíadas. O esporte também criou um caminho para sua educação, graduando-se como Engenheira Ambiental antes de se juntar à Parley para compartilhar seu amor pelos oceanos com outros brasileiros.


"Acredito no poder da natureza, na colaboração e na paixão", explica ela, "Trazer as pessoas de volta ao ambiente natural para que possam se reconectar, fomentar oportunidades e diálogo e, finalmente, criar projetos que protejam e restaurem a saúde de nossa sociedade e de nossos oceanos".

Na semana passada, Juliana retornou de sua terceira expedição de Vela para os Oceanos - uma série contínua de viagens à vela no Brasil celebrando a diversidade, a comunidade e a vida sem desperdícios. Com os participantes "imersos nos ritmos do oceano, da natureza, é uma experiência verdadeiramente intensa e transformadora", conclui, "para os participantes e para mim também".

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