Mariana: nem o céu nem o mar são os limites
No mês das mulheres, Mariana Salles conta um pouco da sua história e de como é sua relação com o mar. Ela buscou conexão não só com o mar, mas também com o céu e as montanhas.
05/Mar/2021 - Mariana SallesNesse mês das mulheres, vamos compartilhar com a nossa comunidade um pouquinho sobre a história de algumas mulheres que inspiram outras a se jogar no mar. Vem conferir um pouco da história da Mari!
- Quem é você?
Sou Mariana, tenho 34 anos, sou formada em design de produto, mestre em design com foco em educação inclusiva de crianças com autismo, empreendedora socioambiental e professora de design de produto, matemática lúdica e tecnologia para crianças e jovens de 4 a 16 anos. Sou apaixonada por esportes radicais, apesar de ter nascido e crescido no mar, comecei pelo ski e morei 6 anos no Colorado, EUA. Durante a graduação, fabriquei meu próprio ski e postei o vídeo de como fazer no YouTube para que outros também pudessem fazer:
Filmei o processo todo porque aprendi como fazer o ski pesquisando na internet, então queria devolver pra internet um vídeo mais completo. Até hoje é um dos vídeos mais vistos de como fazer seu próprio ski. Além disso, sabia que ninguém ia acreditar que tinha feito meu próprio ski, por ser mulher e brasileira. Provavelmente fui a primeira brasileira/o a fabricar o próprio ski.
Quando voltei para o Brasil, aprendi a voar de parapente e logo em seguida gravei uma série pro Canal OFF, Ski na Nova Zelândia.
"Ski na Nova Zelândia", para o Canal OFF
Logo depois, participei da gravação do documentário do Canal Off sobre o primeiro evento de parapente feminino da América Latina, Saia Pra Voar.
Documentário Saia Pra Voar, Canal OFF
Depois da série, decidi aprender a surfar de uma vez por todas. E hoje, escolhi morar em Saquarema, onde posso surfar e voar todos os dias nos melhores picos do estado do Rio. No início da pandemia, iniciei o projeto Mirafaceshield.com.br , desenvolvi e doei mais de oito mil face shields pelo Brasil inteiro para instituições de saúde pública e projetos sociais. O Canal Off também ajudou a divulgar a campanha e fez esse vídeo aqui que resume bem a minha vida.
- Como é a sua relação com o mar hoje? Como ela começou?
Praticamente nasci dentro do mar. Sou do Rio de Janeiro, capital, nasci e cresci na Zona Sul do Rio. Meus pais sempre foram muito a praia, tinhamos uma casa em Angra, meu avô e minha mãe sempre nadaram muito no mar. Meu avô morava no Leme e ele nadava do Leme a Praia Vermelha e voltada. O mar é a minha casa, meu corpo sente muita falta quando fica muito tempo sem entrar no mar. Quando era pequena, não conseguia imaginar como as pessoas moravam longe do mar. Consegui morar 6 anos na montanha, mas agora não quero mais sair de perto.
Surfando em Saquarema. Foto: @floryanezphoto
- Qual foi o maior perrengue que você já passou no mar?
Quando estava aprendendo a surfar, entrei num mar de um metro e meio no canto do recreio. Tava lá no fundo, sol nascendo, de repente veio aquela série lá atrás. Não era muito boa em dar golfinho, tomei a série, e fui sendo arrastada pro meio, mas ainda tava muitoooo longe da areia. Meus amigos não viram nada porque o sol tava contra. E não dava pra ver nada. Só que enquanto tomava todas, um pranchão bateu na lateral da minha cabeça e quase desmaiei de baixo d'água. Até que dei uma acordada e foi o suficiente para entender que tinha que reagir. Quando consegui pegar ar, estava berrando involuntariamente. Vi o surfista que largou o pranchão, tentei chamar ele pra me ajudar, mas ele estava mais enrolado do que eu. Aí agarrei na minha prancha e fui tomando as espumas até chegar na areia. As espumas estavam bem fortes, levei vários caldos no meio do caminho. Quando cheguei na areia, vi que estava sangrando. Por muito pouco poderia ter desmaiado e poderia ter sido sério por não ter ninguém pra me ajudar a sair. Mas deu tudo certo. Continuo me assustando com o mar, mas isso faz parte.
- Qual é a sua melhor lembrança dentro da água?
Tenho algumas, principalmente em Bali, meu primeiro e único tubo, em Uluwatu, foi curto, mas mágico. E a maior e mais longa onda que peguei em Nusa Dua e o sol estava se pondo e a lua cheia nascendo na mesma hora. Depois de pegar essa onda, não sabia mais para onde ir. Estava muito feliz, fiquei boiando e sorrindo.
Surfando em Uluwatu, Bali. Foto: @itamarguima
- Quais foram seus maiores aprendizados?
O maior aprendizado do surf foi estar presente em paz naquela imensidão. Sempre vale a caída e o surf realmente salva.
- Qual o seu próximo desafio? Objetivo?
Ajustar meu estilo, surfar a linha da onda cada vez melhor.
- O que diria para uma mulher que está começando a se conectar com o mar?
Paciência e respeito. E o mar realmente cura qualquer coisa.
Itauna, Saquarema. Foto: @floryanezphoto