Márcio é uma grande inspiração e exemplo para o Surfguru, esse texto é uma pequena homenagem à ele, sua família e amigos nesse momento.

Nós, que estamos na água com frequência, sabemos que existem diferentes tipos de surfistas: aquele que curte pegar umas marolas de vez em quando, tem aquele outro amigo que ama surfar, mas não consegue estar na água por causa da rotina. E também tem aquele fissurado, que montou sua vida, seu trabalho, seu dia a dia, para poder seguir surfando altas ondas e ir atrás dos melhores swells para "sempre".

Márcio foi um dos maiores exemplos desse tipo de surfista: se mudou para o Havaí ainda jovem para poder ficar perto das melhores ondas do mundo, sem apoio de marca, sem conhecimento local, sem garantia financeira. Sinceramente, por aqui no Surfguru, sempre que alguém demonstra esse amor por esse esporte que significa tanto para nós, é um motivo de alegria e inspiração.

Esse tipo de surfista é quase que a encarnação do Espírito Aloha. E o Márcio é uma das encarnações do Espírito Aloha, porque além de ser um fissurado, espalhou alegria, respeito, sorrisos e humildade pelas águas dos picos que passou. É mais do que um surfista, é um surfista de alma.

Foi assim que conquistou, junto aos seus conterrâneos Yuri Soledade e Danilo Couto, o respeito da galera de Maui ao começarem a se jogar nas bombas de Jaws apenas na remada. No meio da expansão do surf através do Tow In, os "Mad Dogs" foram pioneiros na arte de descer as maiores ondas do mundo do jeito clássico: você, uma prancha e o mar. Se hoje temos Albee Layer e Billy Kemper pegando tubos profundos em Jaws, foi porque esse trio baiano estava lá, só no preparo físico e mental, sem apoio de máquinas ou equipamentos ultramodernos. Foi uma nova revolução do esporte.

E essa é uma coisa que poucos podem dizer que fizeram, mas ainda é pouco para definir quem foi Márcio.

A fatalidade aconteceu na Praia do Norte em Nazaré e foi a primeira morte decorrente de um acidente durante uma sessão de big surf no pico conhecido por ter as maiores ondas do mundo. Márcio estava surfando na remada, segundo relatos, apenas com o colete normal (sem ser inflável). Após dropar a onda, foi engolido pela espuma e derrubado da prancha. Ainda segundo pessoas que estavam na sessão, demorou um tempo até que o corpo subisse a superfície e quando foi resgatado, já estava sem pulso. Ainda houve uma tentativa de reanimação na praia, mas sem sucesso.

Hoje, só temos a certeza de que o Márcio seguirá com a gente toda vez que entrarmos na água. A energia que ele deu ao mundo, seguirá fluindo junto com as marés e o vento, sempre seguindo os swells com as melhores ondas do planeta para sempre. Esperamos que toda essa energia também conforte amigos e familiares nesse momento.

Um grande abraço do Surfguru 

Mahalo!