Kite Soul – O Kitesurf Adaptado
Gustavo Foerster nos conta como foi o processo de construção do Kite Adaptado do paratleta aventureiro Fernando Fernandes
17/Jul/2018 - George Noronha - Ceará - BrasilGustavo Foerster é um velho conhecido nosso. Juntos já fomos duas vezes ao Havaí, em busca de suas ondas potentes e perfeitas, já percorremos vários quilômetros do litoral nordestino em busca dos famosos Ventos Alísios e já vivemos muitas aventuras, tanto no surf, quanto no kite, sejam em competições, ou em trips incríveis!
Mas, como ele mesmo explica, a vida está sempre nos enviando desafios e na vida de um atleta profissional, esses desafios são constantes:
“Primeiro foram as competições, a vontade de vencer, de ser campeão. Depois de alguns troféus, esses desejos mudam… Surfar ondas maiores, Hawaii, Cabo Verde… viajar para condições extremas se tornou então, meu principal objetivo. Na sequência vieram as travessias, velejar 450km em 5 dias, atravessar 2 estados, chegar de kite aonde os carros não chegam!”, explicou Gustavo.
Dessa forma, desafios cada vez mais extremos foram ficando também, cada vez mais frequentes. Contudo, como vimos, a vida de atleta profissional também envolve grandes surpresas. E quando você imagina já ter vivido de tudo, sobretudo no mundo do Kite, a vida trouxe a Gustavo aquele que, seguramente, seria seu maior desafio: fazer com que outra pessoa aprenda a arte de deslizar nas águas impulsionado pelo vento.
Até aí tudo bem, afinal de contas, Gustavo já iniciou inúmeras pessoas na arte do kitesurf. Contudo, o desafio da vez era fazer com que uma pessoa com deficiência (paraplegia) se tornasse velejador.
O desafio era enorme, pois, tudo, absolutamente tudo, partiria do zero. Desde a concepção e adaptação do equipamento, incuindo-se aí a construção de uma prancha adaptada, até mesmo a criação de um modelo didático de ensino que atendesse a demanda do aluno.
Mas, nem tudo nesse caminho eram “pedras” e desafios aparentemente impossíveis de serem superados. Se a missão era gigante, a vida também colocou um guerreiro à altura da hercúlea tarefa, o paratleta e multiatleta de esportes radicais, Fernando Fernandes. E já sabe, missão dada, é missão cumprida.
Fernando Fernandes dispensa apresentações. Basta dizer que esse aventureiro, além de inúmeras conquistas, tem no currículo um Bicampeão Mundial de Paracanoagem. Inclusive, já surfamos juntos uma pororoca histórica, na última operação registrada no Rio Araguari-AP, antes da onda que ficou conhecida como o Havaí das Pororocas, ser extinta.
E foi com esse histórico que a dupla encarou o desafio de desenvolver o primeiro Kite Adaptado do Brasil e com isso, possibilitar que mais pessoas com deficiência física possam sentir a incrível sensação de velejar puxado por uma pipa.
Como vimos, Fernando Fernandes já conhecia muito bem os caminhos possíveis do impossível, afinal de contas, já havia feito isso em outras modalidades:
“ Na água somos todos iguais “, ele sempre dizia.
Desafio aceito, chegou a hora de por as mãos à obra…
Foram meses de preparação. Ligações, fotos, vídeos, protótipos, muitos áudios pelo Whatsapp, até chegar o dia em que Fernando e Gustavo, pela primeira vez se encontrariam pessoalmente, no litoral norte de Salvador, mais precisamente no Clube da Prancha, espaço criado e dirigido por Foerster.
“Lembro que estava organizando as coisas, colocando o último guarda-sol, quando ouvi aquela voz dizendo ‘quer uma forcinha ai’ ? Era o Fernando, chegando com toda sua característica disposição e energia para dar início a mais uma grande aventura”, contou Gustavo.
Depois disso foram vários encontros, tardes de bate papo sobre os equipamentos, visita a fabricantes, vídeos e muito treino prático. Em um mundo novo pra ambos, um buscava entrar nos pensamentos e no mundo do outro para que os ajustes fossem feitos da melhor maneira. E dessa forma, aos poucos foram encontrando o caminho. Os equipamentos, gradativamente foram sendo aprimorados até que, em um dia de sol e vento:
“Ele planou! E foi embora sem parar enquanto eu corria pela areia feliz da vida vendo todo aquele esforço se tornar o nosso sonho possível. Naquele momento Fernando, pela primeira vez, deslizou com seu kite sobre as ondas do mar”, relatou Gustavo, emocionado.
No início de julho, Fernando e Gustavo estiveram no Ceará para a gravação de alguns episódios que serão exibidos no Esporte Espetacular, da Rede Globo, como parte do objetivo desse projeto, que é divulgar para o maior número de pessoas essa nova possibilidadeesportiva para pessoas com deficiência.
E os planos da dupla não param por aí. A idéia é depois criar um curso e uma vivência, para que outros cadeirantes possam sentir e experienciar essa aventura, além da produção de um documentário.
Fernando já é consagrado em outras modalidades como Surf Ski, Wakeboard, Bike Adaptado, Rapel. E agora, no Kitesurf, ele mostrou mais uma vez que os desafios estão aí para serem superados.
SAIBA MAIS
Instagram: @gustavofoerster e @fernandoflife
Fonte:http://blogs.diariodonordeste.com.br/manobraradical/kitesurf/kite-soul-o-kitesurf-adaptado/