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Julgando as Tendências

Um brasileiro escreveu uma tese de doutorado em que ele mostra que os juízes da ASP tendem naturalmente a dar um "tratamento diferenciado" a surfistas de seus próprios países.

03/Mai/2012 - Todd Prodanovich - Estados Unidos

Eu diria que cada nação tem suas versões de Bob Dylan e um duplo-duplo com queijo (em suas mentes, pelo menos), e que essa experiência compartilhada dá às nações um sentimento de identidade unificada. Isto é tudo muito bom, mas o que acontece quando arrastamos essa bagagem para o mundo do surf profissional? Mais especificamente, o que acontece quando vamos para cabine do juiz?

Recentemente, o Doutorando Breno Sampaio, da Universidade de Illinois, terminou a sua dissertação no campo da economia forense, em que ele discutiu um preconceito que existe no julgamento de profissionais em eventos de surf. Sua pesquisa, que foi realizado com uma amostra das notas das ondas de cinco eventos em 2010, e mostrou uma tendência sugerindo que os juízes da Tour Mundial da ASP tendem a dar a seus companheiros compatriotas um tratamento preferencial, mas não da maneira que você imagina.

Embora a reação instintiva é se reunir como uma comunidade, acender as nossas tochas, e aguçar nossos forcados para um bom linchamento da ASP à moda antiga, eles podem não ter muitos ganhos neste caso. Segundo o estudo, os juízes da ASP não estão dando pontuações maiores aos seus compatriotas, mas ao contrário, o estudo conclui que eles estão dando notas menores aos surfistas de outros países.

A pesquisa constatou que, em média, os juízes dão os adversários em torno de 0,133 pontos a menos em todas as ondas, com a média indo para 0,3 pontos a menos em ondas que vão realmente ser contadas em seu total de bateria. Se o seu compatriota está ganhando, no entanto, este efeito negativo desaparece. Em outras palavras, os juízes não estão entregando vitórias de baterias para os seus compatriotas numa bandeja de prata, eles só querem mantê-los no jogo, se eles estiverem perdendo.

Para aqueles de vocês que não têm uma compreensão básica dos julgamentos da ASP, é algo assim: Cada bateria tem cinco juízes para pontuar as ondas, sob a supervisão de um juiz chefe (Head Judge). O painel de juízes é escolhido a partir de um conjunto de juizes internacionais que se revezam ao longo do evento. Durante cada bateria, todos os cinco juízes internacionais contribuem na pontuação, mas a maior e a menor notas são descartadas, a média das três notas do meio torna-se a pontuação da onda, que a ASP afirma ser suficiente para eliminar qualquer potencial tendência. Infelizmente, de acordo com o estudo, um competidor ainda tem uma chance maior de ganhar com um compatriota na cabine, mesmo depois de deixar de fora as pontuações maior e menor.

Quando a ASP foi apresentada à pesquisa e solicitada a comentar o assunto, o retorno foi surpreendente. "Eu não classificaria com qualquer valor", respondeu o Head Judge da ASP Richard Porta. "Nós temos um cara que fica no meio da América e brinca com números e fórmulas. Eu tenho coisas mais importantes para me preocupar do que se um juiz dá 0,8 pontos acima da média em um punhado de baterias das 510 que temos que julgar este ano. Além das 91 baterias femininas e os cinco eventos Prime em que serei Head Judge este ano".

O co-Head Judge da ASP Pritamo Ahrendt foi mais pragmático em sua resposta aos números: "Eu acredito que temos o melhor sistema para coibir notas tendenciosas", diz ele. "Escolhemos os juízes que são surfistas e que amam o surf como um esporte e entendem que ser tendencioso é a pior característica possível que qualquer juiz poderia ter. Se notarmos o orgulho nacional ou julgamento tendencioso, ou apenas má julgamento, eles deixarão de trabalhar para a ASP. "É claro que este é um tema que eles não abordam de ânimo leve, mas também não admitem que ainda há a possibilidade de uma tendência no julgamento. Os números do estudo de Sampaio, no entanto, certamente discordam.

Você pode sentir que estas discrepâncias de menos de um ponto são triviais. Mas antes de desprezar a pesquisa inteiramente, pense na bateria final entre Mick Fanning e Kelly Slater no Rip Curl Pro Bells Beach de 2012. Essa final foi decidida por menos de um ponto, e foi uma vitória da discórdia, com os profissionais, fãs e especialistas alinhando-se em ambos os lados do debate. Em uma entrevista recente à revista STAB, Josh Kerr emprestou estas palavras sobre a final em Bells: "Para Mick, eu tenho certeza que ajudou o fato da competição ter sido em Bells e na Austrália. Eu tenho um sinto que se final tivesse sido em Trestles, Kelly teria vencido. "

Talvez seja a hora que encontramos um partido neutro do surf da Suíça, se você quiser. Treinamos aqueles povos das montanhas para julgar o surf de uma transmissão ao vivo em uma cabine aconchegante em Zurique, e enquanto eles não produzem um surfista de classe mundial para si mesmos, nosso esporte estará seguro.

Mas mesmo assim, não estaríamos fora da floresta. Os juízes têm de ser surfistas ao longo da vida com uma profunda compreensão das idiossincrasias aquáticas para poder saber com certeza que um aéreo slob com uma mão é muito superior a um aéreo com um grab duplo.

Infelizmente, essas pessoas são e devem ser parte de uma cena do surf desenvolvido, uma cena que produz os surfistas que mais do que provavelmente eles serão inclinados a admirar. No final, não importa o que fazemos em busca da objetividade, o surf nunca será um esporte de vencedores e perdedores absolutos.