"Imbecil" no Carro de Kelly Slater É Localismo Sem Lógica
Imbecil? Quem me chamou de imbecil? Numa postagem do Instagram, Kelly Slater polemiza com alguns obstinados moradores da Gold Coast sobre uma foto que ele enviou com um "Fuckwit" (imbecil) marcado com parafina em seu pára-brisa.
19/Abr/2014 - Dylan Heyden - The Inertia - Gold Coast - Queensland - AustráliaEmbora os detalhes do evento ainda não estejam claros - ou seja, se a pessoa que fez isso sabia que era o carro de Kelly - ou mesmo se o agressor era um local da Gold Coast, esses detalhes são irrelevantes. A discussão acalorada no Instagram revela uma tendência inferior do localismo dos dias de hoje: um grande desrespeito à lógica.
Falando em morder a mão que te alimenta. Kelly contribuiu muito para o surf contemporâneo - desde a criação de tendências em design de pranchas até inúmeras manobras modernas - que muitos poucos podem dizer sinceramente se o surf seria exatamente como é hoje sem a sua influência. Por esta mesma razão, parece ilógico para qualquer pessoa aceitar todos esses avanços e, em seguida, atacá-lo através das mídias sociais.
Normalmente o localismo ocorre por um dos dois motivos: para manter a exclusividade de um pico, ou por uma questão de segurança dos outros. Embora por vezes os meios para atingir estes objetivos sejam questionáveis, pelo menos existe algum tipo de lógica por trás disso. No caso de Kelly, no entanto, é pouco provável que ele estivesse colocando a segurança de outros em risco, e quando se trata de exclusividade, Kelly menciona a si mesmo, "Eu não sou 'local ', mas eu tenho surfado aqui desde 1987 e sempre foi inacreditavelmente lotado".
Considerando tudo isso, fica a pergunta - por quê? Por que os surfistas continuam a odiar outros surfistas sem motivo?
Talvez desta vez foi para chamar a atenção, ou talvez fosse apenas uma maneira de desabafar a frustração de lidar com o crowd no pico. Não importa o caso, simplesmente não faz sentido.
Mesmo a idéia tradicional de manter o sigilo de um pico, porém, é duvidoso nos dias de hoje. Muitos surfistas são rápidos em se tornarem territorialistas quando se trata de picos locais, mas também surfam outras ondas ao redor do mundo. Se eles têm o direito de ser territorialistas em casa, por que eles acham que eles também têm o direito de invadir os picos locais de outras pessoas? Esta maneira de pensar verdadeiramente mina a necessidade de respeito mútuo.
De maneira nenhuma isso significa que o surf deve se tornar pirulitos e arco-íris o tempo todo, mas a apropriação de picos de surf por certos grupos desafia a idéia de que a maioria, se não todas as pessoas, geralmente concordam que o mar não pertence a ninguém. Além disso, visando manter a exclusividade de um pico em face de uma população crescente de surfistas é um exercício de futilidade fugaz. Se um pico é tão grande, alguém tem que ceder em algum momento.
Por sua própria natureza o localismo também aliena os surfistas entre si - os do clube que têm permissão para surfar no pico contra todos os outros. Mas e se, de repente, as pessoas que tinham sido afastadas por tanto tempo forem necessárias para manter a onda viva?
Lower Trestles, na Califórnia, por exemplo, pode ser um dos melhores, porém mais frustrantes picos do planeta, devido à forma como ele pode ficar lotado. Mas o mesmo crowd de surfistas que se reunem lá dia sim, dia não, foram os mesmos que se uniram na campanha para salvar Trestles, opondo-se à ampliação da estrada pedagiada que ameaçava a onda. Para picos mais localizados, a ameaça de repentinamente perdê-los para o desenvolvimento é muito maior porque há menos pessoas para protegê-los.
Quando tudo se resume, os atos de localismo são apenas a tentativa de uma pessoa ou de um grupo para mostrar a sua raiva dos outros, e de muitas maneiras eles não têm qualquer tipo de fundamento lógico. Assim, cabe a nós decidir se preferimos perpetuar esta forma de cão-comendo-cão do surf, ou abordar as coisas de uma forma mais razoável.
Artigo traduzido do site The Inertia