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Com quantas mulheres se faz história no surf?

Impossível parar as milhares de mulheres com histórias de vida, superação e conquistas. Venha se inspirar com essas mulheres que remaram por um lugar no outside... E conseguiram!

17/Mar/2022 - Aline Nicola - Brasil

Aloha, galera! 

Mês do Dia Internacional da Mulher e não poderia falar sobre um assunto diferente: mulheres ao mar, mulheres no surf!

Que a luta das mulheres sempre foi um desafio a mais, não é novidade para ninguém e é claro que no surf não seria diferente. Mas vamos deixar as diferenças de lado e enaltecer as mulheres que construíram a história do surf no Brasil e no mundo e quebraram todos os tabus! 

Margot Rittscher 

Aqui no Brasil, Margot Rittscher – norte americana naturalizada brasileira - é considerada a primeira surfista brasileira. Margot surfou sua primeira onda em 1936 com uma prancha de madeira feita pelo seu irmão Thomas Rittscher, em Santos, na Praia do Gonzaga. 

Brigitte Mayer 

Só nos anos 80 que tivemos a primeira brasileira nas competições – com um cenário extremamente machista, ainda mais se tratando de mulheres no esporte, mulheres no surf – mas nada importava para a carioca Brigitte Mayer, que não parou por aí! Além de ter sido a primeira brasileira a competir na década de 80, foi também a primeira mulher a competir em uma etapa do circuito mundial – em 1990.

Brigitte Mayer por Tony Fleury

Acho que foi só isso? Não! Em 2019, Brigitte se torna então a primeira mulher a presidir a Abrasp (Associação Brasileira de Surf Profissional). De lá pra cá, muita água rolou e ela continua na luta pelo surf nacional. Sem sombra de dúvidas, a história de Brigitte dentro e fora da água é um capítulo à parte na história do surf brasileiro – que continua sendo contada. 

Andrea Lopes

Outra brasileira casca grossa que tem seu nome cravado na história. Primeira brasileira a ingressar no circuito mundial da ASP (hoje WSL) e a primeira a conquistar um título numa etapa do WCT – em 1999 na Barra da Tijuca como wild card (convidada), vencendo, entre outras, a campeã da época – a australiana Layne Beachley. Andrea é detentora de inúmeros títulos nacionais. Passou e superou desafios pessoais, vencendo a anorexia e superando os desafios. Uma verdadeira campeã! Uma história de vida e carreira inspiradora!

 

Jacqueline Silva 

Jacque brigou de frente com australianas e havaianas e foi a primeira brasileira a chegar numa final do WCT em Honolua Bay, Hawaii, em 2002. Jacque venceu a etapa final contra Pauline Menczer e saltou do sétimo lugar para ficar com o vice campeonato daquele ano, atrás somente da australiana Layne Beachley (naquela época as regras eram diferentes das atuais e mesmo com a vitória da brasileira, o título ficou com a australiana). Histórico!

 

Margo Oberg 

A história aponta que Margo abriu as portas do surf feminino profissional nos anos 60 ao vencer o primeiro campeonato mundial com apenas 15 anos de idade, em 1968 em Porto Rico. Margo começou a surfar com pranchas maiores, mas fez a transição para a pranchinha sem muita dificuldade e estabeleceu novos padrões competitivos entre as mulheres.

Margo Oberg por Island Style

E não pense que ela pegava ondas pequenas, não! Ela surfava belas ondas no North Shore de Oahu, Hawaii. Margo conciliava os títulos dos campeonatos com os livros da escola, já que começou muito nova. Depois de um tempo se casou e passou um tempo fora do surf profissional. Retorna então em 1975 e coloca mais alguns títulos na sua estante: 7 no total, sendo 3 nos registros da WSL.

Lisa Andersen 

Lisa tem história para contar. Começando por ter nascido no Dia Internacional da Mulher de 1969. Lisa coleciona dezenas de troféus que foram conquistados desde sua adolescência. Período esse que foi bem agitado. Apesar de ter nascido em Nova Iorque, Lisa e a família se mudaram para Flórida quando ela tinha 13 anos - quando começou a surfar. Com isso vieram inúmeros problemas com a família, fugia de casa e chegou até a ser presa – não à toa, era conhecida como “Trouble” (problema, em inglês) – mesmo título de seu documentário. Apesar desse “apelido”, sempre foi uma garota sorridente, rodeada de amigos e encantadora. Aos 16 anos – em 1985 - fugiu de casa “definitivamente” para viver o sonho de ser surfista. Passou por diversos perrengues: sofreu abuso, dormia cada noite em uma varanda diferente. Anos depois atingiu o seu objetivo - 4 vezes: Lisa é quatro vezes campeã mundial: 1994, 1995, 1996 e 1997. Ela tem inúmeras curiosidades: primeira mulher a estampar a capa da revista Surfer Magazine com a chamada: “Lisa Andersen Surfs Better Than You” (Lisa surfa melhor do que você); foi casada e tem uma filha com o brasileiro Renato Hickel (WSL); revolucionou o mercado de surfwear, já que naquela época ainda não existiam peças femininas (shorts, roupas de borracha etc.). 

Capa da Surfer Magazine / Tom Dugan

Na etapa de Portugal – Peniche deste ano (2022), a WSL fez uma homenagem em comemoração ao dia internacional da mulher e o 11 vezes campeão mundial Kelly Slater colocou o nome de Andersen em sua camiseta e disse que ela o inspira por tudo o que viveu e vive até hoje. Ela e Kelly foram muito amigos. É muita história para contar!

Layne Beachley

20 anos de circuito mundial: 7 títulos mundiais – sendo 6 consecutivos: 1998, 1999, 2000, 2001, 2002, 2003 e 2006. Layne foi a primeira mulher a conquistar a tríplice coroa havaiana em 1997 e repetiu o feito no ano seguinte. Layne iniciou sua trajetória no surf profissional aos 16 anos de idade, e mesmo com tantas glórias, ela foi ganhar seu primeiro título mundial somente após 4 anos de tour. Em 2010, Layne publicou sua biografia: “Layne Beachley: Beneath The Waves”. Mais uma lenda do surf feminino!

Maya Gabeira 

Mesmo que você não seja familiarizada ou familiarizado com o surf, muito provavelmente você já ouviu falar de Maya Gabeira. Maya é uma surfista carioca de ondas gigantes que em 2013 (infelizmente) protagonizou um dos maiores acidentes nas ondas de Nazaré – Portugal. Fato este que a deixou fora do mar e das competições por 2 anos.

Maya Gabeira em Nazaré. Foto: Rafel G. Riancho

Maya voltou com foco total e acumula hoje alguns títulos e recordes: é 7x campeã mundial de ondas gigantes e 2x recordista mundial – ela quebrou o próprio recorde que em 2018 era de 20,8 metros e em 2020 surfou uma bomba de 22,4 metros – título que mantém até hoje (2022). No início deste ano sofreu outro acidente – novamente em Nazaré – mas foi rapidamente socorrida. Nada pára essa mulher! 

Silvana Lima

Outra surfista brasileira que continua na ativa com um surf bem agressivo e que chegou bem perto do título mundial nos anos de 2008 e 2009, quando foi vice-campeã. Silvana é a nossa maior vencedora de etapas no WCT: 4 vitórias (Roxy Pro 2009, Beachley Classic 2009, Movistar Peru Classic 2010 e Swatch Pro Trestles 2017). Mais uma história cheia de desafios. E dentre os altos dessa trajetória linda: Silvana Lima representou o Brasil nas Olimpíadas de Tóquio! Muita luta e orgulho!

Silvana Lima por @anacatarinaphoto

Tatiana Weston-Webb

Mais uma brasileira que quebra tudo e também nos representou nos Jogos Olímpicos de Tóquio de 2020 (que aconteceu em 2021 devido à pandemia). Filha de brasileira e inglês, nasceu em Porto Alegre, mas ainda bebê se mudou para o Hawaii. Em 2018 decidiu representar o Brasil no surfe. Tati está no circuito mundial desde 2016 e está sempre presente no topo do ranking 2016 – 4º, 2017 – 10º, 2018 – 4º, 2019 – 6º, 2020 – evento suspenso e 2021 – 2º - e venceu 3 etapas do WCT: Huntington Beach em 2016, Margareth River em 2021 e Peniche em 2022 (06 de março). Tati foi vice-campeã mundial no ano passado, quando disputou a final com a 5x campeã Carissa Moore.

 

Carissa Moore

 A Havaiana Carissa Moore está no circuito mundial desde 2010, tem no seu currículo 5 títulos mundiais e 2 da Tríplice Coroa Havaiana. Logo no seu ano de estreia no circuito mundial, ficou em 3º lugar no ranking geral e foi nomeada “Rookie Of The Year” (novata do ano) aos 17 anos de idade. No ano seguinte foi campeã mundial em cima da Stephanie Gilmore - até então 4x campeã mundial e é a atleta mais jovem a ganhar um mundial de surf – entre homens e mulheres. No meio do circuito mundial de 2021, Carissa esteve nos Jogos Olímpicos e acumulou mais um título: campeã olímpica no surf – e mais um marco histórico: a primeira!

Stephanie Gilmore

7 vezes campeã mundial. 3 vezes campeã da Tríplice Coroa Havaiana. Esse é o cartão de visitas da Australiana Stephanie Gilmore. No tour desde 2007 (como wildcard, esteve em uma etapa em 2005 e outra etapa em 2006 – e venceu as duas), venceu nos anos 2007 (sim, no seu ano de estreia), 2008, 2009, 2010, 2012, 2014 e 2018. Em 2014 Stephanie lançou o documentário “Stephanie In The Water” onde conta sua história no surf e sobre o incidente que aconteceu no final de 2010, quando foi atacada por um homem quando chegava em casa. Ah! Stephanie também é atleta olímpica, e chegou às oitavas de final.

Bethany Hamilton

Bethany é uma surfista havaiana sem limites e com uma paixão sem fim pelo mar. A história de Bethany é uma das mais inspiradoras que já vi. Aos 13 anos ela estava literalmente botando pra baixo e quebrando tudo e acumulando títulos. Até que, em um dia de free surf, foi atacada por um tubarão tigre de 4 metros e perdeu o braço esquerdo. Porém, 1 mês depois estava de volta no mar e alguns anos depois, voltou a competir e a ganhar títulos. Ela ama ondas grandes e nunca se intimida. Já surfou Pipeline e inclusive foi campeã no “Surf N Sea Pipeline Pro”, foi indicada para o “WSL Big Waves Awards” por ter surfado uma bomba em Jaws. Já na fase adulta, Bethany correu campeonatos para entrar na elite do surf, e corre em algumas etapas do mundial como wildcard.

Bethany Hamilton por @lieberfilms

Fato curioso: em 2016 Bethany foi indicada para o “ESPY Awars” – premiação anual criada pela ESPN – para a categoria de “Melhor Atleta Feminina Com Deficiência”, porém, ela gentilmente pediu que seu nome fosse retirado. No documentário “Unstoppable” ela menciona essa indicação e como se sentiu. Vale a pena conferir. Ela é uma inspiração e tanto!

Moana Jones

2022 foi o primeiro ano em que as mulheres competiram na etapa de Pipeline ao mesmo tempo que os homens, e a final foi entre Carissa Moore e Moana Jones, uma havaiana de 22 anos que entrou como wildcard, levou o título e foi coroada como a “Rainha de Pipeline”. Moana cravou seu nome na história!

 

São tantas mulheres incríveis com histórias de vida inspiradoras, cheias de luta, desafios e sempre com algo para nos fazer pensar e ensinar. Foi difícil parar de escrever! O que não falta são mulheres com histórias emocionantes.

Até a próxima, galera! Aloha!

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Aline Nicola é advogada, crossfiteira mas que sempre amou o mar. Depois de muitos anos afastada, voltou e se conectou de uma maneira inexplicavelmente mágica. Iniciando no surf, explorando histórias, aprendendo e compartilhando todo aprendizado – dentro e fora da água!

Instagram: @alinenicola