CINCO ANOS SEM ANDY IRONS
Cinco anos atrás, o mundo perdia Andy Irons. A Revista HARDCORE, em sua edição #254, homenageia um dos maiores campeões que o surf já teve.
05/Nov/2015 - Julio Adler - HARDCORE - Brasil2 de Novembro de 2015 marca uma triste data. Foi nesse dia, cinco anos atrás, que o mundo perdia o havaiano Andy Irons. O surfista partiu, sozinho, aos 32 anos, em um quarto de hotel. Complicações cardíacas ou overdose por drogas – foram duas as causas levantadas. Nunca importou. Deixou viúva a mulher, Lyndie, grávida de oito meses do futuro filho Axel Irons. Deixou uma legião de fãs. Deixou saudades. Definitivamente deixou sua marca como um dos personagens mais influentes, mais irreverentes e mais talentosos que o surf já viu. Hoje, exatos cinco anos depois de sua morte, HARDCORE presta homenagem ao ídolo.
Confira abaixo, na íntegra, a matéria publicada na edição #254:
No último dia 2 de novembro, o mundo do surf foi abalado pela trágica notícia da morte de um de nossos maiores campeões, o havaiano Andy Irons. Até o fechamento desta edição, as circunstâncias ainda não haviam sido totalmente esclarecidas. Diferentes versões, relatos e boatos chegaram à redação em questão de horas. O que se sabe, ao certo, é que Irons foi encontrado sem vida num quarto de hotel em Dallas – onde fazia escala para seu destino final, o Hawaii.
Independente da causa de sua morte precoce, a equipe HARDCORE lamenta profundamente a perda de um dos maiores surfistas que o mundo já viu. E estende sinceros sentimentos à família Irons.
A SEGUIR VOCÊ CONFERE UM TEXTO DO COLUNISTA DA HARDCORE JULIO ADLER SOBRE UM DOS CAMPEÕES MAIS INFLUENTES E REVERENCIADOS DA HISTÓRIA.
Andy vai fazer falta
POR JULIO ADLER
É estranha a relação que construímos com nossos heróis.
Mesmo sem nunca ter trocado uma palavra, um olhar sequer, temos a nítida impressão de alguma intimidade.
Conhecemos e admiramos suas virtudes e não perdoamos seus defeitos porque os tornam humanos demais.
Aos heróis, permitimos tudo, menos a ausência.
Fui apresentado aos irmãos Irons em 1994 no mundial amador da ISA na Barra da Tijuca.
Andy tinha 16 anos e um surfe absurdamente vertical, rápido e violento.
Levava no bico os logos da Town and Country e Quiksilver, os mesmos do irmão mais novo.
Num dia nublado de ondas pesadas, Bruce e Andy surgiram para aquele bando de fissurados como uma nova esperança no mundo do surfe.
A atitude arrogante e o jeito de ‘vim para vencer’ já estavam lá.
Ver os dois surfar era como poder prever o futuro, todos ali na praia tinham campeão mundial mastigado entre os dentes.
Menos de dois anos depois, antes mesmo de completar 18 anos, em fevereiro de 1996 Andy bateu Shane Beschen e Derek Ho para conquistar sua primeira grande vitória, o HIC Pipe Pro, num Pipeline apavorante de 12 pés – e ainda voltou a tempo de fazer as provas na segunda feira no Kauai.
A promessa deixava de ser simples promessa e virava realidade diante dos nossos olhos.
Faltava o mundo – e Andy foi ganhar o mundo.
Em 97 ganhou o primeiro WQS realizado em Teahupoo, classificou-se para o WCT e ainda teve fôlego para ganhar o XCel Pro em Sunset perfeito.
Não conseguiu passar da terceira fase em quase toda a temporada de 1998, exceto por um nono em Hossegor e duas vitórias excepcionais seguidas, OP Pro e US Open, ambas em Huntington Beach.
Andy já não era mais apenas um surfista perigoso em condições extremas, título mundial deixou de ser previsto e passou a ser cada dia mais provável.
Seu patrocinador, a MCD, lançou o vídeo Raw Irons e a imagem de surfista imprevisível aumentava.
Slater anuncia sua retirada do circuito e Andy não consegue se classificar entre os top 32 em 99.
Especulava-se que abuso de substâncias e festas demais tinham afastado o rapaz do seu destino.
Todo campeão precisa de sorte e Andy aproveita a saída do bicampeão mundial Damien Hardman no meio do circuito e pega a vaga no WCT em 2000, arrasta o primeiro evento realizado em Trestles e termina entre os top 16.
Em 2001 fica em 10º.
Vence Bells e Teahupoo no começo de 2002, faz duas finais seguidas contra seu camarada de festas Neco Padaratz (perde uma e ganha a outra) e termina o ano como Pipe Master.
Por três anos domina o esporte diante dum Kelly Slater assombrado.
Já surfando pela Billabong, Andy ganha um filme com assinatura do genial Jack McCoy.
Blue Horizon exibe um Andy detestável, próximo dum Lex Luthor diante do Slater Super-Homem.
Andy assume suas influências, Potter, Fletcher, Dora – inconformados.
Finalmente alguém mostra honestidade num filme de surfe.
Morre a geração gente fina que quer apenas se divertir, hora da porrada.
Andy humilha Slater na arena que KS julgava dominar.
Slater desmorona.
Irons triunfa.
O surfe nos anos 90 e 00 perde a inocência subjugado por um Andy Irons Deflorador.
Aprendemos a odiar Andy por fazer o que todos temíamos: mostrar as fraquezas do maior surfista de todos os tempos.
Mesmo quando Slater é capaz de superá-lo, Andy ressurge ferozmente numa das melhores finais de toda história dos Pipe Masters, em 2006.
Testemunhamos a volta de Andy ao pódio em Teahupoo em 2010.
É estranha a relação que construímos com nossos heróis.
São mais de 15 anos de cumplicidade, mesmo sem nunca ter trocado uma palavra, um olhar sequer.
Andy foi talvez o surfista mais explosivo de toda a história.
Pela primeira vez a comunidade perde um irmão no topo dos seus poderes, na ponta dos cascos.
Já perdemos outros de forma mais trágica, mais brutal, mais desumana.
Mas acho que nunca duma maneira tão solitária.
Tanta gente querendo ajudar e ninguém ao lado.
Andy vai cedo e jovem, como James Dean, Hendrix, Jim Morrison, Kurt Cobain, como Bruce Lee.
Que artista era Andy Irons.
Basta assistir suas ondas em Teahupoo, Pipe, Desert, Jeffreys…
Estive com Andy Irons agora em Portugal, assim como todos vocês.
Nem tive a chance de dizer olá ou adeus.
Ou de confessar tanta admiração.
MATÉRIA REPRODUZIDA DA REVISTA HARDCORE, NO LINK http://hardcore.uol.com.br/cinco-anos-sem-andy-irons/
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