Você é surfista há anos, tem boa base no esporte e já fez lá suas trips pelo mundo. Este ano, quer dar uma guinada e encarar as sonhadas ondas havaianas. Teme, no entanto, pela preparação. É residente no Brasil, não tem como treinar em condições semelhantes e acha que o localismo vai ser o menor de seus problemas na Meca do Surf Mundial. O big rider pernambucano Alexandre Ferraz, o Xandinho, dá a dica de como se preparar para encarar os desafios em mares como Pipeline, Sunset Beach e Waimea Bay treinando no quintal de casa.
Sem verba para visitar os picos mais pesados do planeta, Xandinho buscou criar no Recife um ambiente de treino que reunisse semelhanças ao que iria enfrentar no Havaí. Com o preparador físico Sidarta Geber no comando, foi submetido a um sistema duro de movimentações para torná-lo apto às condições havaianas.
“Para se ter uma ideia, fiz os meus treinos em Itapoama, uma onda do Cabo de Santo Agostinho, ao lado do Recife, que nem é tão power, mais deitada até, mas que me proporcionava uma remada muito boa. Troquei a natação por esse surfe, onde as ondas quebram mais no outside e para varar a arrebentação gastamos muita energia, além de surfar em Serrambi, nos fins de semana. De resto, sem ter possibilidade de fazer viagens para fora do Brasil, no momento, apostei em treinos específicos e na ioga. Estou preparado”, disse, confiante, o surfista.
No Havaí, Xandinho espera encarar todo e qualquer monstro, tendo o discurso do carioca Felipe “Gordo” Cesarano como guia: “Nóis capota, mas não breca”. Parte dos treinos desde o início, Sidarta não teme pela integridade física do aluno. Confia tanto no potencial técnico de Xandinho como no físico, do qual cuidou com dedicação. Este ano, mais do que nunca, o surfista pernambucano tem mesmo de estar afiado, visto que sua prioridade são os vagalhões da temida Jaws, em Maui.
“O treinamento de Alexandre Ferraz foi elaborado com base nos princípios do Treinamento Funcional. Pensando nas dificuldades que ele poderá encontrar com as situações adversas da natureza, criei microciclos de progressão em carga e variações de exercício focando as qualidades físicas, porém sem comprometer a estrutura do corpo. Com isso, tive de colocá-lo em situações de alto estresse físico para que ele adquirisse não só a forma física adequada, mas também a psicológica. Em conclusão, variando os métodos aplicados ao seu ciclo de treinamento, o atleta teve ganhos rápidos e significativos."
Para quem estava na dúvida, ainda há tempo de se preparar e, mais ainda, se jogar no Havaí. Isso porque, não satisfeito, Xandinho gravou pequenos vídeos explicativos de como fez sua preparação. São quatro, ao todo.
Com três meses de temporada pela frente, ele mostra que é possível ser brasileiro e chegar bem em busca das maiores. É preciso, mais do que tudo, ter criatividade. “No mais, é saber chegar no pico e respeitar os havaianos acima de tudo. Entrar na água em silêncio, não chegar em grupo e não criar nenhum tipo de hostilidade. Depois, é pegar o tubão da vida e ser feliz com o que se gosta”, finalizou.