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Alaias, Hollows e o Estabilizador

Guilherme Pallerosi

Esta matéria faz parte de uma série sobre a história do surf que usa as quilhas como referência para falar da evolução das pranchas após a década de 1930

Ao longo da historia, cada mudança no design das pranchas possui uma busca individual por novas experiências que sujeitos determinados puseram a prova. Desde os primórdios até aproximadamente a década de 1950, a maior parte dos surfistas eram os shapers de suas próprias pranchas, moldando o esporte e desenhando a subcultura do surf.

As primeiras pranchas alaias de madeira maciça, não possuíam quilhas e a aderência da tábua na água se dava principalmente pela hidrodinâmica das bordas. Nesse sentido, a Olo, prancha de surf dos reis havaianos eram especiais, pois diferente das alaias usuais, eram maiores e mais finas, ganhando estabilidade em linha reta, além de uma remada pesada, porém mais rápida. No entanto, até a década de 1930 o surf era restrito a poucos tipos e tamanhos de onda, pois quanto maior, mais rápida ou cavada a onda, mais difícil manter a direção da prancha e evitar ser engolido pela água. As primeiras experiências para melhorar a estabilidade das pranchas ocorreram na Califórnia e no Havaí nas décadas de 1920 e 1930, com rabetas e fundos diferenciados.

O bottom convexo (fundo da prancha que fica em contato com a água) foi uma das primeiras formas experimentadas para fazer às vezes das quilhas. A estratégia dos shapers da época se baseava no casco das canoas, que ajudava a obter velocidade na remada, devido a hidrodinâmica do casco e a manter uma linha na descida da onda, mas por outro lado, fazia a prancha desgarrar na curva ou perder a velocidade. Outra experiência mais bem sucedida veio com uma invenção do lendário Tom Blake e a prancha de surf oca, as Hollow boards. Ao desenvolver a inovadora prancha Hollow, inspirada na asa oca dos aviões, Blake colocou uma rabeta muito fina (a primeira pin tail da história) com bordas retas, permitindo descer ondas com muito mais velocidade e estabilidade. Mesmo assim, a ausência de quilha tornava impossível acompanhar a linha da onda e principalmente obter velocidade, ou menos ainda fazer manobras como as que fazemos hoje.

Alguns anos depois, em meados da década de 1930, dois surfistas da Califórnia entrariam para a história do esporte como surfistas e inventores da primeira quilha primitiva, o “estabilizador”. Woody Brown, de San Diego, e (novamente) Tom Blake, de Los Angeles não se conheciam, mas introduziram um estabilizador na rabeta na mesma época, possibilitando direcionar a prancha com maior precisão. Os estabilizadores não eram como as quilhas de hoje, mas possibilitavam acompanhar a linha da onda. O formato de barbatana das quilhas viriam anos depois, com outras inovações, mas os precursores do estabilizador permitiram que novas ondas fossem exploradas e o surf evoluísse.

Blake e Brown foram grandes surfistas e viveram na pura essência do surf, introduzindo o esporte na era moderna com uma cultura muito autêntica. Posteriormente, Brown seria conhecido também como o precursor dos barcos a vela com dois cascos, tipo catamarã, com evidente inspiração nas canoas polinésias. Tom Blake, por sua vez, se tornaria um dos maiores nomes do surf de todos os tempos.

Para mais matérias sobre história do surf e construção de pranchas ancestrais (ancient boards) acesse o blog: http://madeiraeagua.blogspot.com/

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