Pino mostra que quando se trata de surfe o tamanho não é documento

Surfista, único anão profissional da modalidade no Nordeste, esbanja talento nas ondas e é exemplo do esporte até para os mais conceituados atletas do mundo

12/Ago/2014 - Nathália Dielú - Cabo de Santo Agostinho - Pernambuco - Brasil

Os passos curtos se perdem na paisagem imensa da praia. O tamanho, porém, não destoa da vastidão. Roberto Pino mede apenas um metro e trinta e cinco de altura, mas traz na história algo muito maior que a estatura: a vocação para ser grande. Talvez por isso tenha escolhido o mar como abrigo, as ondas como companheiras. É surfista há trinta anos. O único anão no nordeste a praticar o esporte profissionalmente. No Brasil, apenas Fabinho Anão, de Santos, é conhecido como exemplo semelhante.

- Não tem limites para ninguém. Basta querer, acreditar. Para mim, não há limites.

O único pequeno de uma família de quatro irmãos grandes. Aprendeu desde cedo a compartilhar. 

- Meus irmãos sempre me ajudaram muito. Foi com essa cumplicidade que nós tínhamos que comecei a tomar gosto pelo esporte. O meu primeiro contato com o surfe foi numa piscina olímpica. Uma prancha de isopor, amarrada por uma corda e meus irmãos puxando.

Equilibrou-se. Apaixonou-se pela prancha. Hoje, tem uma feita especialmente para ele. Tamanho, peso e resistência. Tudo calculado para um melhor desempenho de Pino no mar. Foi com ela que conquistou, este ano, o título mais importante da carreira até agora: o Campeonato Pernambucano de Surfe da Praia de Itapuama, Litoral Sul de Pernambuco, na categoria Master. Um prêmio demorou a chegar também pela timidez de Pino, que não participava de competições oficiais por causa disso.

E como nem só de medalhas vive um campeão, Roberto Pino - ou Pino Detonador como é conhecido pelos colegas surfistas - ganhou um reconhecimento que parece valer mais do que muitos prêmios: a admiração dos dois filhos. 

Lara, de cinco anos, e Otávio, de seis, herdaram o gene do pai. Nasceram pequeninos como ele. A mãe, Eriane, mede um metro e sessenta e quatro. Não é maior do que o amor que guarda pela família especial. 

- Eu acompanho sempre eles. O surfe é a vida do meu marido e fico feliz de ver essa alegria dele e dos meus filhos pelo pai.

Tamanha paixão contagiou o filho. Otávio começou a surfar aos seis anos, um ano antes dos primeiros passos do pai no surfe. 

- Eu quero ser surfista como o meu pai. Adoro o mar e gosto de ver como ele pega as ondas, confidencia Otávio.

O que para Roberto é motivo de orgulho. 

- Um dia eu sonho ver o meu filho competindo e surfando ao meu lado, lá dentro da onda, contou o surfista. 

Exemplos gigantes de uma filosofia que acompanha Pino todos os dias: para ser grande, é preciso ser inteiro. 

- Tamanho não é documento não. O que vale é o que está aqui, ó, na cabeça. Os sonhos.

Um admirador: Carlos Burle

Quando o assunto é surfe, o pernambucano Carlos Burle é quase sinônimo de ondas gigantes. Burle chamou a atenção do mundo ao ser recordista na categoria em 1998 e 2001. Conheceu Roberto Pino este ano, na Praia de Itapuama. Virou fã do pequeno-grande surfista.

- É uma honra para mim conhecer esse cara, meu conterrâneo. Ele é um personagem transformador. Os ingredientes que ele tem vão além da performance dentro d'água. Ele é persistente, um exemplo para muita gente.

Durante o Campeonato de Itapuama, em julho, Burle desafiou Roberto Pino para uma bateria no mar do litoral sul pernambucano. Foram dez minutos de ondas, algumas delas compartilhadas. Difícil saber quem levou a melhor.

- Foi o Roberto, que leva uma grande vantagem. Ele tem conhecimento da onda, tem preparo para esse lugar. De qualquer forma o que importa foi a lição de vida. É um prazer para mim poder viver esse momento com ele. Valeu, cara!

Um agradecimento que se estende a todos que podem enxergar nos sonhos, a força para realizar. 

- O esporte consegue transpor essas barreiras, da melhor forma. Consegue levar essa mensagem para todos - completa Burle.

Matéria reproduzida do Globoesporte.com