Os Perigos das Águas Contaminadas

Em 2008, o surfista profissional Ryan Carlson foi levado às pressas para o hospital depois que um pequeno corte de ouriço-do-mar, enquanto surfava em Porto Rico, tornou-se um grande abcesso cheio de pus, que foi rapidamente tomando o seu pé esquerdo. Depois de ser internado no hospital, os médicos diagnosticaram Ryan como tendo SARM (Staphylococcus aureus resistente à meticilina), a forma mais letal de infecção por estafilococos, e disse-lhe que, a fim de impedir a propagação eles poderiam ser forçados a amputar a sua perna, efetivamente terminando a sua carreira como surfista profissional.

Ryan é um dos muitos na comunidade de surf diagnosticado com SARM, porque, como os surfistas freqüentemente nos deparamos com a exposição no mar e na praia. Tive vários amigos que lutaram com infecções por SARM por meses, um até precisando de transporte de emergência em Bali. Na verdade, isso está se tornando tão comum entre aqueles que surfam que a Transworld Surf nomeou-a como uma das doenças de surfistas "top dez" de 2010.

Casos como estes têm provocado uma série de estudos médicos com resultados surpreendentes: Nove das dez praias no estado de Washington que foram testadas deram positivas para estafilococos, incluindo o SARM. Outras praias testadas positivamente foram encontradas na Flórida, Hawaii e Califórnia.

Apesar de noticiadas pela imprensa, é inquietante o quão pouco as pessoas que visitam as praias sabem sobre os riscos de adquirir SARM e os métodos adequados para a prevenção e tratamento da infecção. De acordo com um estudo feito pelo Departamento de Comércio dos EUA, cerca de 1 em cada 4 americanos visitam a praia anualmente, gerando 61 bilhões de dólares em receitas para a Califórnia. No entanto, olhando o website visitcalifornia.com da Califórnia, não há sequer uma menção sobre o SARM, e muito menos qualquer um dos outros riscos assumidos ao fazer uma viagem para as praias (correntezas, exposição ao sol, água suja, etc).

Cientificamente falando, a SARM é uma bactéria que pertence à classe Cocci. Como muitas outras bactérias dessa classe, a SARM tende a multiplicar-se rapidamente, formam colônias de transferência horizontal de genes entre os indivíduos, o que torna especialmente difícil de tratar após a infecção inicial, e dá origem à habilidade incrível e assustadora de colônias de bactérias se adaptarem rapidamente às mudanças nas condições, incluindo nossos antibióticos. A SARM é mais facilmente adquiridas através de feridas abertas, e os estudos mostram que se enterrar na areia, parece aumentar o risco de infecção.

Pense em quantas vezes você foi surfar com um corte em seu pé e se esqueceu de lavar a areia depois. Tradicionalmente, esta atitude de negligência veio do fato de que, se você tem uma infecção, uma ida rápida ao consultório médico para pegar alguns antibióticos é o suficiente. E para as duas últimas gerações, realmente não havia qualquer necessidade de temer a infecção, porque tivemos um fluxo constante de novos antibióticos provenientes da indústria farmacêutica.

No futuro, vai depender de cada indivíduo tomar mais precauções na prevenção da infecção, porque estamos provavelmente chegando ao fim da era dos antibióticos e sua ampla disponibilidade. Tem havido um enorme aumento nas cepas multi-resistentes de bactérias e, como os surfistas estão expostos a níveis mais altos do que a maioria dos outros, através do contato com a água. A comunidade médica não descobriu uma única nova classe de antibióticos desde a década de 1980, apesar de amplo financiamento e exploração, as perspectivas para o futuro é que provavelmente seremos incapazes de atender a necessidade esperada.

O SARM e o futuro dos antibióticos se resume à questão de que tipo de mundo queremos deixar para nossos filhos. É imperativo que a comunidade do surf tome medidas para que as nossas crianças sejam educadas sobre essas questões, não com sustos de mídia, mas na água, como bons hábitos na vida saudável precisa para começar em uma idade jovem e ser ensinados juntamente com aulas de como colocar uma roupa de neoprene ou pegar a sua primeira onda.