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Marlos Viana - Puerto Escondido 2012

Em uma verdadeira aula sobre a região mexicana de Puerto Escondido, o surfista Marlos Viana narra sua primeira experiência e dá dicas preciosas sobre a cultura, a geografia e o surf local

30/Jul/2012 - Marlos Viana - México

Havia acabado de chegar de uma snow trip para Utah, Estados Unidos, durante o carnaval, quando alguns amigos começaram a me pilhar, dizendo que já haviam fechado a viagem para o México para o final de maio.

Afrânio Modesto, Alessandro Bonaspetti, Lucas Brito, Márcio Viana, Sérgio Melo, o fotófrafo Tom Almeida, entre outros, faziam parte do grupo de baianos que decidiu pegar as ondas mexicanas no mês mais constante de todo o ano.

Quando faltava pouco mais de um mês para a galera viajar, comecei a pensar seriamente a respeito e também a me movimentar. A essa altura, a galera já estava emanando aquela vibe que rola antes das trips. Todo mundo compartilhando fotos e vídeos das ondas da região, acompanhando previsão, já mostrando fotos do quiver (conjunto das pranchas), entre outras coisas. E, para abalar ainda mais minha cabeça, Salvador era assolada pelo maior período sem ondas que me vem à memória. Não tive muita opção, tinha que me jogar.

Inicialmente, minha intenção era ir no dia 27 de maio, acompanhado do meu irmão Márcio, de Afrânio e da sua esposa Joana. Como estava em cima da hora, só consegui passagem com preço bom para o dia 21. Acabou sendo legal também porque chegaria junto com Alessandro Bonaspetti, "local" de Vilas do Atlântico, e Rafael JJ, bodyboarder faixa-preta que viria a conhecer no aeroporto da Cidade do México.

Depois de 24 horas de viagem, passando por três aeroportos internacionais, finalmente chegava ao minúsculo aeroporto de Puerto Escondido. Quando desci do avião, senti um enorme baque com o calor que fazia. Tinha pelo menos uns 43 graus. Estava beirando o insuportável.

Eram duas horas da tarde e ainda estava na expectativa de fazer o surf no final de tarde, ou melhor, no início da noite, já que anoitecia às 20:30 horas.

Bonaspetti, que havia passado 20 dias no México no ano passado, sugeriu o Beach Hotel Inês como hospedagem. O hotel fica na praia de Zicatela, exatamente em frente à torre principal dos salva-vidas, entre o pico das direitas e das esquerdas, conhecido como Mex Pipe.

O preço certamente não era dos melhores, mas as instalações, o excelente rango e, principalmente, o ar-condicionado nos quartos, eram os seus principais atrativos.

Tom Almeida, grande conhecedor das ondas mexicanas, já estava em Puerto há algumas semanas e nos fez companhia durante o almoço. Ele conseguiu transmitir um pouco da energia e da tensão que rolaram durante um swell potente na semana anterior.

Zicatela é a onda!

Ainda que tenha visto inúmeros vídeos, escutado varias histórias e analisado diversas fotos que atestam que algumas das melhores direitas do mundo estão na região de Salinas Cruz e Barra de La Cruz, ao Sul de Puerto Escondido, eram os enormes canudos de Zicatela que eu tanto desejava.

Queria pegar o tubo da vida, voltar a sentir aquela vibe que só um surf de respeito pode proporcionar e voltar a desafiar meus limites no surf. Uma coisa eu garanto: se é isso que você também quer, Zicatela é o lugar!

Os dois primeiros dias em que o mar esteve bem pequeno, pelo menos 1 metrão na série, confesso que já foram suficientes para mostrar que naquele mar não é você que está com o controle. É Zicatela!

Muitos drops atrasados, tubos perdidos e "massagem", como costuma dizer Tom Almeida. No terceiro dia, finalmente tomei o primeiro "sossega maluco". O mar havia subido para o que eles chamam de 4 pés (3 metrões na série). Precavido, resolvi entrar pelo canto direito e ir surfando até as famosas esquerdas.

Era muita onda se comparássemos a qualquer mar em Salvador, sem exagero. Já no outside, antes mesmo de pegar qualquer onda, veio uma grande série bem mais lá fora e a primeira me acertou em cheio. A prancha quebrou em dois pedaços que acabaram saindo por trás da onda.

Meu erro foi ter caído com a cordinha. Depois desse dia não usei mais e não parti mais nenhuma prancha. Saindo da praia, fui direto para a casa de Miguel, talvez o melhor conserto de pranchas do mundo. E 24 horas depois ele me entregou a prancha praticamente nova.

Tom Almeida já me avisava o quanto o lugar é tranquilo. Na água, sabendo chegar, você pegará suas ondas tranquilamente e, ao contrario de outros lugares onde a energia é pesada e existe pouco respeito, vários experts te incentivam a dropar e vibram quando vê você completar um bom tubo.

O pico

Zicatela é a joia do surf de Puerto Escondido. Sua praia com fundo de areia possui três quilômetros de comprimento e é surfavel em toda sua extensão. É possível destacar os principais picos de surf. Começando pelo lado direito (Noroeste), há o pico de Carmelitas, geralmente uma direita extremamente rasa, rápida e que quebra a poucos metros da praia. Um tubo com características muito parecidas com o Backdoor de Pipeline, no Hawaii, ou seja, drope acelerando, acelere mais, um pouco mais e, se possível, um pouco mais ainda. É placa atrás de placa. Uma vez completado o tubo, você percorreu uma extensão incrível em poucos segundos.

A principal onda de Zicatela, no entanto, é a famosa esquerda localizada a algumas dezenas de metros a sudeste da torre dos salva-vidas, conhecida mundialmente como Mexican Pipeline, devido à enorme semelhança com a esquerda mais famosa do mundo, Pipeline, no Hawaii. Quebrando mais para fora, essa esquerda forma um tubo extremamente largo, mais lento e aberto que o de Carmelitas. Nos dias grandes, a forte correnteza leva para o fundo e deixa as condições bastante perigosas. O risco de afogamento é grande e real.

Ainda mais à esquerda desse pico existe o Far Bar, uma onda bastante surfada nos dias menores. Ela quebra mais no outside, num banco de areia formado pela correnteza que sai do Mexican Pipe. As ondas, geralmente esquerdas, podem ficar bastante extensas, proporcionando mais de um tubo por onda.

Finalmente, no outro extremo da praia de Zicatela, existe a lindíssima praia de La Punta. Uma costeira de pedras que avança para o mar. Por isso o nome, proporcionando uma clássica formação de point break. Excelente opção para quando as condições em Zicatela estão acima do seu limite. A onda é muito extensa e favorece a realização de todas as manobras.

Espírito Aloha

Tom me apresentou ao havaiano do Kauai Marco Satz. O cara é o Aloha em pessoa. 51 anos com energia e surf de garoto, pilhando toda a galera e entubando como poucos.

O legend local Angel Salinas é um entusiasta de Zicatela. Surfa os dias grandes de pranchão e de SUP. Quando não está na água, registra os melhores momentos com seu equipamento de foto e vídeo profissional.

Angel, por sinal, fornece surf reports diários de Zicatela pelo seu site Centralsurf.tv, onde sempre aparece boas fotos de toda a galera. Bom, assim como esses dois cascas-grossas, existem vários outros que são boa gente, respeitam a todos e botam pra baixo sem medo. Gary, Oscar Moncada, Selestino.