#comportamento #encontros 

Atletas Paraolímpicos do Atletismo em Aula de Surf Adaptado com Pirata

Uma aula mais do que especial. Um aprendizado mútuo. Conhecidos por vencerem a superação, atletas paraolímpicos do atletismo brasileiro viveram uma experiência nova. Desta vez nas ondas e orientados por Alcino José da Silva Neto

16/Jan/2012 - Fábio Maradei - Guarujá - São Paulo - Brasil

Um grupo com sete atletas, que treinam no Centro de Treinamento de Alto Rendimento do SESI, em Santo André, aprendeu a surfar, na Praia de Pitangueiras, como forma de aliviar o stress da fase de preparação, visando os Jogos Paraolímpicos de Londres. A iniciativa partiu de Marco Aurélio Lima Borges, que pratica arremesso de peso e lançamento de disco, entrando em contato pelo facebook, por ter conhecido o programa de surf adaptado, realizado numa vertente da Escola, chamado Surfing for All e desenvolvido com a ISA (International Surfing Association).

Segundo ele, essa é uma fase em que os atletas estão em alto grau de treinamento e a ideia foi proporcionar uma adrenalina diferente, um outro enfrentamento. Para Pirata e sua esposa, Maria Gabriela Carreiro, psicóloga do esporte e administradora do Pirata Surf Club, a aula foi motivadora. “É muito bom ver outra modalidade prestigiando o surf e também o surf poder interagir, apoiar pessoas que representam tão bem o Brasil”, afirmou o surfista de 40 anos, que há 25 pratica o surf adaptado, depois de ter a perna esquerda amputada, quando um motorista embriagado o atropelou, enquanto pilotava sua moto.

“Por serem atletas, com condicionamento e grau de mobilidade muito bom, a aula foi até tranquila. Eles não precisaram de pranchas adaptadas, usaram as convencionais. A adaptação foi técnica, alguns surfaram de joelho, outros em pé, com prótese. Foi uma emoção muito grande para todos”, complementou Maria Gabriela, lembrando que a atividade também contou com familiares dos atletas e a participação do surfista Gabriel Silva, que faz surf adaptado constantemente.

Para os atletas, a emoção foi evidenciada nas palavras, nos gestos, na alegria ao saírem do mar. “Participar do surf adaptado foi fantástico. Não ter ficado em pé de primeira já é coisa de Deus e vou voltar semana que vem. Quero ficar de pé, sentir aquela sensação de liberdade. Foi sensacional. Falei para o Pirata que quero ficar bom nesse negócio. Fiz os dois estilos, com e sem prótese, mas quando estava sem, comecei a me soltar um pouco”, afirmou Marco Aurélio Lima Borges.

Aos 34 anos, o atleta de arremesso de peso e lançamento de disco sofreu acidente de moto há 13 anos, tendo amputação transtibial (abaixo do joelho). Conheceu o esporte paraolímpico em seu processo de reabilitação em 2004 e dois anos depois foi para o atletismo. Na mesma temporada tornou-se recordista sul-americano e em 2007 foi convocado para os jogos Parapan-Americanos. No ano seguinte, representou o Brasil nos jogos paraolímpicos na China, sendo oitavo colocado e melhor da América do sul. É campeão brasileiro de levantamento de peso desde 2005 e um grande divulgador da modalidade no Brasil e mundo afora.

Renato Nunes da Cruz, 40 anos, velocista nos 100m, 200m e 400m, também mostrou muita animação. “Pegar onda é uma coisa louca, é um sonho de adolescência. Quando somos jovens, achamos isso distante, muito elitizado, mas pegar onda é um grande lance, um grande negócio, um esporte barato e bacana. Eu me sinto hoje realizado como um menino. Estou muito feliz”, afirmou.

O atleta sofreu acidente de trabalho, em 2004. Ao movimentar um equipamento, uma peça de 400 quilos caiu sobre a sua perna esquerda, gerando uma amputação abaixo do joelho. Entrou no atletismo há quatro anos, como meio de qualidade de vida e quando voltou ao trabalho encontrou um atleta corredor que o desafiou a participar de uma corrida e deu exemplo de pessoas que corriam sem perna.

O fundista Ezequiel Marcelo da Costa, 40 anos, também conseguiu ficar em pé na prancha e comemorou muito. Em 1990, ele sofreu um acidente na empresa em que trabalhava, tendo seu braço decapitado. É atleta paraolímpico desde 1997 e atualmente o segundo melhor do Brasil na modalidade. Foi campeão da maratona de Nova York, da maratona de Miami, ambos nos Estados Unidos, e este ano espera conseguir o índice para as paraolimpíadas de Londres.

“Achei uma loucura pegar onda. No principio pensei que não ia conseguir, mas devido a tentativas consegui obter um objetivo legal de ficar em pé na prancha. E foi onde bateu a adrenalina. Depois em outra onda eu fiquei em pé de novo, foi show de bola. O Pirata deu esse prestígio para a gente e foi muito legal. Quando tiver oportunidade quero voltar para pegar mais onda com a galera”, comentou.

Outro bem animado foi Wander Luiz Armando, mais conhecido como Wander Negão, 35 anos, também atleta do arremesso de peso e lançamento de dardos. “Eu viajei. Fui para outro mundo. Gritei bastante, delirei e vocês ainda vão ver o Wander Negão ficando em pé. Vou voltar outras vezes”, brincou o atleta, que veio da natação adaptada.

Outro velocista, Rodrigo Luciano da Silva, nos 100m e 200m, destacou sua superação no mar. Ele teve paralisia cerebral e na reabilitação tornou-se nadador e quando conheceu Marco Aurélio, se dedicou ao atletismo, primeiro no lançamento de disco e arremesso de peso e depois passou a ser velocista. Hoje é o melhor do País em sua categoria. “Pela experiência, pela minha deficiência, que não tenho muitos movimentos, foi uma experiência muito boa, de estar no mar. As pessoas que nunca fizeram aula de surf adaptado precisam conhecer, porque é muito bom”, falou.

Completando, José Henrique, 24 anos, atleta da categoria T20. Ele tem deficiência intelectual moderada, por complicações no parto. Está no atletismo desde 2001 (antes praticava futsal). “Achei o máximo, maior adrenalina ali no mar, o projeto está de parabéns”, completou o novo surfista.

O Pirata Surf Club existe há 17 anos, sendo que há cinco foi criado o Museu Aberto do Surf, recebendo projetos sociais de vários estados, com aulas de surf gratuitas com toda a estrutura, equipamentos e profissionais. Além disso, Pirata desenvolve um trabalho com pessoas portadoras de deficiências, buscando sempre receber pessoas para vivenciar o ambiente da praia e aprender um pouco sobre o esporte.

Atualmente a escola recebe instituições de diversos lugares proporcionando aulas de surf (adaptado ou não). Para conhecer mais sobre o trabalho de Pirata há o site www.piratasurf.com.br e também o facebook Alcino Pirata e Maria Gabriela Carreiro.