A Anatomia de uma Ressaca
Uma forte ressaca atingiu o litoral do Nordeste entre 15 e 19 de julho de 2015, as ondas no oceano chegaram a alcançar 5 metros de altura na noite da quinta-feira. Neste artigo mostramos a evolução do aparecimento desta ressaca ao longo dos dias, mostramo
18/Nov/2020 - Surfguru - BrasilAs ressacas são fenômenos naturais que causam muita destruição, e podem causar acidentes sérios, como naufrágios e afogamentos. Os cientistas vêm estudando as ressacas há muito tempo para conseguir prevê-las com exatidão, e assim, poder evitar as tragédias. Para isso, eles desenvolveram modelos matemáticos que, introduzidos dentro de computadores, podem simular as condições naturais que criam as ressacas, bem como, conseguem descobrir qual será a intensidade e a duração de cada uma delas.
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Em julho de 2015, os modelos apontaram que uma forte ressaca estava para acontecer no litoral do Nordeste do Brasil, e ela ocorreu como mostrava a previsão. Usando o extenso banco de dados do Surfguru, pudemos recordar como ocorreu este gigantesco movimento do oceano, através dos mapas de ondas e dos gráficos, bem como, descrevendo os fenômenos que foram a causa desta ressaca.
A ressaca é uma agitação marítima composta de ondas conhecidas como VAGAS . As vagas são ondas que se formam sobre o oceano em áreas muito próximas ao litoral, porque o vento sopra intensamente sobre estas áreas, e durante muito tempo.
Leia este artigo: A Geração das Ondas pelo Vento, para saber mais de como o vento intenso pode criar as ondas.
Este artigo: O que é um swell e o que são vagas explica a diferença entre os dois tipos de ondas de vento no oceano, e a maioria dos surfistas confunde.
A Ressaca do Ano
Na segunda-feira 13, as ondas estavam numa altura considerada normal no litoral do Nordeste do Brasil:
Na terça-feira o vento começou a se intensificar sobre uma grande área do oceano atlântico sul, esta área é conhecida como pista de vento:
No mapa da esquerda podemos ver que o vento passou dos 20 nós, cerca de 40 quilômetros por hora, numa grande área do oceano com milhares de quilômetros de extensão. No mapa da direita, pode-se notar que o efeito disso sobre o oceano foi que as vagas já ultrapassavam os 2 metros e meio, em alguns locais com mais de 3 metros de altura.
Na quarta-feira o vento soprava até mais forte, isto combinado com o longo tempo em que ele já soprava sobre a superfície do oceano, fez com que as ondas continuassem a aumentar de altura, alcançando quase quatro metros em algumas áreas:
Na quinta-feira a ressaca alcançou o seu máximo, com ondas de até 5 metros de altura no meio do oceano, o vento soprava forte sobre o oceano, em algumas áreas com mais de 50 quilômetros por hora (27 nós).
Na sexta-feira o vento começou a perder intensidade, mas ainda soprava forte próximo ao litoral, o que fez com que as maiores ondas estivessem atuando na linha de costa, causando destruição:
Ainda demorou para que a ressaca perdesse toda a sua força. No domingo a altura das ondas ainda tinha cerca de 3 metros no oceano:
Analisando o gráfico de ondas no litoral de Pernambuco, observamos que as maiores ondas foram registradas na sexta-feira, contudo, no meio do oceano a ressaca já estava perdendo energia:
A energia de ondas registradas naqueles dias ultrapassou os 10 mil joules, e o fluxo de energia foi de cerca de 86 kilowatts por metro quadrado de área de onda:
A causa da Ressaca
Um fenômeno atmosférico chamado de Anticiclone, área da amosfera aonde a pressão está muito alta, foi o que provocou esta ressaca.
No esquema abaixo está representado um anticiclone. Este fenômeno é caracterizado por um local aonde o ar da parte superior da atmosfera desce até a superfície do oceano, o ar acumulado na superfície alcança uma pressão muito alta, gerando correntes de ar para fora do anticiclone, fazendo com que a pressão se equilibre novamente:
No mapa abaixo está a representação do fluxo de ar sobre a superfície do oceano, o anticiclone é representado pela letra A. A pressão atmosférica no anticiclone é bem alta, o que provoca a forte ventania sobre o oceano, criando a pista de vento que gera as ondas:
O Anti-Ciclone se formou a 2.500 quilômetros do litoral do Rio Grande do Sul e possuia no seu centro uma pressão muito elevada: 1031 hPa. Para se ter uma idéia, a pressão no litoral do Nordeste estava em 1018 hPa, uma diferença de 13 hPa, suficiente para criar a forte ventania sobre o oceano.
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