Encontrei uma animal encalhado na praia, o que eu faço?
Com a chegada do inverno, muitos animais marinhos aparecem ao longo do litoral brasileiro. Saiba o que fazer quando encontrar alguns desses visitantes.
07/Jul/2022 - Alisson Dopona - BrasilPara quem vive no litoral sul/sudeste do Brasil, sabe que o inverno é aquele período marcado por frentes frias responsáveis por trazer mar agitado, algumas ressacas e muita onda. Mas nesse período também acontecem alguns eventos que favorecem o aparecimento de alguns visitantes, e que talvez você já tenha encontrado na praia ou até mesmo na água durante a prática de alguma atividade.
Estou falando de pinguins, e alguns mamíferos marinhos como, por exemplo, lobo marinho, leão marinho, e elefante marinho. Durante o inverno, fatores como a busca por peixes e outros organismos que realizam migrações para regiões mais produtivas, o aumento da força dos ventos e de correntes marítimas (como a corrente das Malvinas, que ganha mais força durante o inverno), influenciam nos deslocamentos que esses animais realizam durante esse período.
Pinguins
Há registros de encalhe em grandes quantidades de pinguim na costa brasileira desde 1927, mas há registros pontuais desde o século XVI em Vitória, Espírito Santo. Essa frequência de ocorrência leva pesquisadores a sugerirem que o encalhe de pinguins na costa brasileira se trata de um fenômeno natural, em resposta a um “excedente de população”. Principalmente quando se leva em conta o estágio de vida que esses pinguins encalham, sendo mais de 97% pinguins juvenis, realizando suas primeiras migrações sendo ainda inexperientes. Entretanto, o aumento de atividades humanas, como, por exemplo, a atividade pesqueira, contribui para o aumento da mortalidade através do bycatch e a competição por recursos pesqueiros (já tratamos desse assunto aqui).
Só no ano passado (2021), do litoral de Santa Catarina até o litoral do Espírito Santo foram registrados 6775 encalhes de pinguins, com maior parte em Santa Catarina. Desses, 436 encalharam vivos.
Pinguim de magalhães (Spheniscus magellanicus). Foto: Críscia Cesconetto (Instagram @crisciacesconettophoto)
Pinípedes - grupos dos Lobos, Leões e Elefantes marinhos
O registro de ocorrências de pinípedes no litoral brasileiro já é mais antigo. Há registros paleontológicos feitos no sul que datam mais de 4000 anos atrás. O sul é a região que, juntamente com a sudeste, concentra a maior quantidade de registros, uma vez que é a mais próxima dos locais de reprodução. Porém, há registros de lobo marinho subantártico (Arctocephalus tropicalis) em Alagoas e elefante marinho (Mirounga leonina) no Arquipélago de Fernando de Noronha. No ano passado (2021), de Santa Catarina ao litoral de São Paulo foram registrados 51 lobo marinhos, 12 leões marinhos e 1 elefante marinho. Desses, 38 encalharam vivos.
Lobo Marinho Subantártico (Arctocephalus tropicalis). Foto: Eduardo Pereira (Instagram @edujapy)
O que fazer se eu encontrar um animal desses encalhado?
Com a grande quantidade de encalhes de animais vivos, é muito provável que você, leitor, os encontre, e é muito importante saber o que fazer nessas situações.
Geralmente os encalhes de pinguins são de indivíduos juvenis, e que apresentam um quadro clínico bem desfavorável. Geralmente encalham desnutridos (a maioria estão caquéticos), hipotérmicos (sim, pinguins sentem frio!) e desidratados. Nestes casos, eles precisarão de suporte de profissionais capacitados e estrutura para sua recuperação.
Já os pinípedes possuem adaptações para viver tanto na água quanto no ambiente terrestre, e acabam passando parte de sua vida revezando entre esses ambientes. Por percorrerem grandes distâncias em busca de alimento, possuem o hábito de descansar nas praias até o momento de retornarem ao mar. Portanto, quando encontrar com algum pinípede na praia, não necessariamente significa que ele está debilitado/doente precisando de auxílio. Pode ser que seja apenas uma parada na praia para um descanso. Porém, essa avaliação deve ser feita apenas por uma equipe profissional capacitada.
Hoje, ao longo do litoral brasileiro, diversas instituições com equipe capacitada trabalham com esses animais e devem ser imediatamente acionadas para o devido atendimento. Porém, até ocorrer o deslocamento até o local de encalhe pode demorar alguns minutos, sendo assim, abaixo segue algumas dicas do que fazer e também do que não fazer ao se deparar com esses animais:
1 - Ligar imediatamente para as instituições que atuam em suas regiões (Segue mais abaixo os números);
2 - Mantenha distância do animal. Lembre que são animais selvagens, e portanto, podem ser agressivos e transmitir doenças.
3 - Se possível, oriente as demais pessoas que porventura estejam no local para não se aproximarem.
4 - Afaste os cães de perto para não atacarem o animal encalhado e não correr o risco de haver uma troca de patógenos (agentes causadores de doenças) entre eles. Nos casos de pinípedes pode ser ainda mais grave, e ele pode carregar esses patógenos para sua colônia disseminando entre outros pinípedes.
5 - Jamais dê comida para o animal.
6 - Jamais force o animal a entrar na água.
7 - Jamais retire o animal da praia.
8 - Jamais coloque gelo nos pinguins. Eles geralmente encalham hipotérmicos.
Outros animais marinhos como tartarugas, golfinhos, baleias e outras aves marinhas também encalham em nossas praias, embora não sigam o mesmo padrão relacionado ao período de encalhe e migração. Porém, as dicas do que fazer também são as mesmas e as instituições que trabalham em nosso litoral também atendem esses animais.
Pra quem eu ligo?
- Região de Santa Catarina à São Paulo: 0800-6423341
- Entre Paraty e Saquarema: 0800-9995151
- Norte do Rio de Janeiro: 0800 026 2828
- Espírito Santo: 0800 039 5005
- Conde, Bahia até Pontal do Peba: 0800-079-3434
- Rio Grande do Norte: (84) 98843-4621
- Ceará: (85) 3113-2137 e (85) 99800-0109
Referências
Cardoso L.G. et al (2011) Gillnet fisheries as a major mortality factor of Magellanic penguins in wintering areas. Marine Pollution Bulletin.
Castello H.P. and Pinedo M.C.(1977) Os visitantes ocasionais de nosso litoral. Natureza em Revista.
Castilho P.V. et al..(1998) Estudo da utilização de mamíferos aquáticos por populações pré-históricas ricas da Ilha de Santa Catarina/SC. Sul do Brasil. In 8a Reunião ̃o de Trabalho De Especialistas em Mamíferos Aquáticos da América do Sul
Lodi L. and Siciliano S.(1989) A southern elephant seal in Brazil. Marine Mammal Science
Moura J.F., et al.(2011) Occurrence of pinnipeds on the coast of Rio de Janeiro State, Brazil. Marine Biodiversity Records.
Neiva, A., 1929. Esboço histórico sobre a botânica e zoologia no Brasil. Soc.Impressora Paulista, São Paulo.
Pinedo M.C.(1990) Ocorreˆncia de pinı ́pedes na costa brasileira.Garcia de Orta, Série Zoológica.
Sick, H., 1997. Ornitologia brasileira, uma introdução. Ed. Nova Fronteira, Rio de Janeiro.
Vooren, C.M., Brusque, L.F., 1999. Avaliação e ações prioritárias para a conservação da biodiversidade da zona costeira e marinha: diagnóstico sobre aves do ambiente costeiro do Brasil.
Ximenez A.(1980) Sobre la presencia de Arctocephalus tropicalis(Gray,1872) en el nordeste del Brasil (Mammalia, Arctocephalinae).Revista Brasileira de Biologia.
-----
Alisson Dopona é Biólogo marinho, amante dos oceanos e está na eterna evolução do surf.
Intagram: @alissondopona